domingo, dezembro 23, 2007

Já chegou o Natal?

Você já ouviu inúmeras pessoas dizerem que o Natal já está em cima; que está próximo ou que já chegou. Talvez você mesmo esteja achando que faltam apenas dois dias para o Natal chegar, mas o fato é que ainda falta muito. Não para que estejamos vivendo o dia 25 de dezembro, mas para que vivamos de fato um tempo de Natal. Não me refiro às lâmpadas, árvores enfeitadas e gordos velhinhos alvirrubros. Falo de um tempo de fraternidade, de amor sincero e respeito pelas diferenças das pessoas. Tudo isso eu vejo encarnando junto com a Criança de Belém.

Quando o anjo Gabriel conversou com Maria lhe disse que o nome da criança que iria nascer deveria ser Jesus. Em sonho, José é advertido a chamar o bebê que estava para nascer também com o nome Jesus. O nome Jesus é a forma latinizada da expressão hebraica Yehoshua, que significa literalmente “Deus é salvador”. A salvação da qual nos fala este nome não tem apenas o significado de ser ele o “cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”, como disse sobre ele João Batista. Em outros termos, Jesus não nos salvou apenas morrendo por nós e tomando sobre si os nossos pecados. Isto de fato aconteceu e devemos render graças ao Pai por enviar em nosso socorro seu Filho unigênito. Eu sou imensamente grato por este gesto supremo e eterno de amor.

Mas o que me encanta mesmo no fato de o Verbo Eterno de Deus ter vindo ao mundo e habitado entre nós é que ele nos ensinou que é possível viver de modo radical o amor e o respeito por todas as criaturas existentes. Jesus me salvou do cinismo, do desencanto para com a vida e com o próximo. Eu já vivi momentos em que me senti decepcionado com a humanidade, como se não valesse apena coexistir ao lado dos outros seres humanos. Nestes momentos, reconheço, estive cego para a minha própria indignidade e imperfeições, de que eu mesmo sou um ser com quem é difícil conviver, mas fui tão tomado pela frustração e tristeza que quase me desanimei.

Quando isso aconteceu foi importante olhar para Jesus não como um rei assentado em majestoso trono nos céus, ou um juiz impávido em sua cátedra de justiça e Lei. Foi indispensável e profundamente salvífico ver Jesus como um peregrino, exatamente o que eu sou, que convidou homens e mulheres para caminharem ao seu lado e que manteve com estas pessoas um relacionamento que lhe provocou tristeza, dor e descontentamento. Ele me mostrou como se deve agir em momentos assim. Foi vital ouvi-lo dizer: “Pai, perdoa-lhes este pecado, eles não sabem o que estão fazendo...”. Sei que Jesus continua dizendo tais palavras ao Pai olhando para mim e para a minha vida, mas, sobretudo, sei também que é isso que ele quer ouvir dos meus lábios quando os meus irmãos agem contra mim.

O problema é que em mim ainda falta muito para ser Natal, noutras palavras, ainda demora para que o amor de Deus encarne em mim. Para que eu tenha a experiência plena da divindade em mim. Hoje eu ouvi um irmão dizer algo lindo, de modo absolutamente despretensioso. Ele disse que Deus nos deu a possibilidade de termos um pouco da sua própria natureza vivendo em nós. E explicou: se Deus é amor, todos aqueles que amam manifestam o Deus que habita dentro deles. Isto é verdade! João nos disse isso em sua primeira epístola de modo expedito e claro: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus, e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” 1 Jo. 4:7 e 8.

Dizer que é Natal é dizer que o amor se encarnou, que é possível sentir o cheiro do amor, andar com ele, tomá-lo em nossos braços. Mas onde está o amor? Nos templos ou nos palácios? Nas sinagogas ou nas catedrais? Nos parlamentos ou nos tribunais? Eu já estive em todos estes lugares, me assentei com os poderosos que ali exercem seus ofícios e posso lhes dizer: ali não há amor. No máximo encontraremos um interesse utilitarista pela vida uns dos outros. Uma espécie de redução da vida alheia a mecanismos de autopromoção e exploração. Onde há egoísmo não pode haver o verdadeiro amor. Parece que estamos na mesma enrascada dos magos vindos do Oriente. Queremos ver Aquele que é amor entre nós, mas não sabemos onde achá-lo. Os céus proclamam que ele nasceu, mas onde estará escondido? Inutilmente vasculhamos as casas dos poderosos deste mundo, como o palácio de Herodes, mas o amor não está lá.

Tive uma idéia, quem sabe o achemos... Que tal procurar nos quintais, nas estrebarias, nos currais da existência. Não foi somente lá que José encontrou lugar onde acolher a sua esposa e seu filho, prestes a nascer? Talvez seja, ainda hoje, somente lá que encontremos o amor encarnado entre os homens. Não podemos comemorar o Natal antes que ele chegue. Não podemos dizer “Feliz Natal!”, se nem sabemos se Natal será. Creio que mais do que comemorar o Natal, os homens de nossos dias deveriam aceitar o desafio de “Fazer Natal!”, ou seja, vamos deixar encarnar em nós a essência de Deus, este amor absurdo e descomensurado por todas as criaturas, particularmente, por todos os homens e mulheres. Vamos chamar a todos de “meu irmão!”, “minha irmã!” e tratá-los com o amor, com o carinho e com o respeito que tal nomenclatura designa, assim, quem sabe hoje, será Natal.

Fazer Natal!

Com carinho,

Martorelli Dantas
martorelli@martorelli.org
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domingo, dezembro 16, 2007

Uma Revolução Simbólica

Tudo quanto existe no mundo natural foi criado por meio da palavra. Segundo a narrativa do livro de Gênesis, disse Deus “haja!” (Gn. 1) e as coisas passaram a existir. Do mesmo modo o evangelho de João nos ensina que “no princípio era a Palavra (o Verbo), a Palavra era Deus e a Palavra estava com Deus. Todas as coisas foram feitas por causa da Palavra e sem ela nada do que foi feito se fez” (Jo. 1). Vendo por este prisma, não podemos ser daqueles que dão pouca ou nenhuma importância ao que se diz.
Além do mundo físico está o universo simbólico, que é composto de nossas representações discursivas e do imaginário, mas permeando e influenciando a esfera concreta das coisas que são. Dar menos importância a isto do que àquilo que chamamos de ‘realidade’ é esquecer o que falamos acima, de que todas as coisas nascem de uma fonte verbal e se condensam na concretude do real. Logo, há uma semente de realidade naquilo que se diz.
Jesus estava extremamente preocupado com aquilo que seus discípulos falavam. Nem um nem duas vezes ele os ensinou sobre o que convém dizer e o que convém não dizer. Ele disse que ao chegar numa casa eles deveriam saudar os que ali habitam dizendo “Paz seja nesta casa!” (Lc. 10:5), afirmando ainda que se houver na casa pessoas dignas da paz que se deseja, esta descerá sobre ela, caso contrário, “a vossa paz tornará para vós”. Não é apenas um conjunto de palavras é uma prenda, um presente, uma dádiva viva.
Noutra ocasião ele advertiu aos seus discípulos para que não julgassem a seus irmãos (Mt. 7:1), porque se assim eles procedessem estariam construindo um ambiente tribunalesco, em que eles mesmos seriam colocados na condição de réus, mais cedo ou mais tarde. Além disso, destacava o fato de que eles e nós não somos dignos de julgar ninguém, uma vez que somos acusados também por nossa própria consciência (“quem não tiver pecado que atire a primeira pedra” Jo. 8:7).
De tudo isso nós estamos bem lembrados e, posso afirmar, que estas verdades têm sido ensinadas na maioria das igrejas cristãs de nossos dias. Mas há algo que tem sido completamente esquecido. Aquilo que Jesus com palavras claríssimas ensinou e que está registrado no capítulo 23 do evangelho de Mateus, nos primeiros dez versículos:
“Então, falou Jesus às multidões e aos seus discípulos: Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens. Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo”.
A verdade e atualidade destas palavras são constrangedoras. Eu as leio com vergonha e um profundo sentimento de arrependimento. Elas se aplicam perfeitamente a mim. Eu fui assim e ainda estou tentando deixar de ser. Que o Senhor tenha misericórdia de todos nós! Em nossa presunção, cegueira e orgulho assumimos o lugar de Deus e deixamos de reconhecer que somos suas criaturas e seus filhos, que somos todos (todos mesmo!) irmãos. É assim que Jesus desejou que nos chamássemos: irmãos. Nem de pastores, presbíteros, reverendos, padres, guias ou quaisquer outros títulos, os quais iludem os homens e obliteram a fascinante e libertadora verdade de que somos iguais, com virtudes e fraquezas, com esperanças e desencantos, com dias bons e maus.
Há dois tipos de espíritos fracos que carecem destas estruturas hierárquicas para se sentirem seguros e felizes. Aqueles que precisam ser tratados com distinção, deferência e especial respeito para se sentirem, ainda que só um pouco e por um pouco de tempo, especiais. E aqueles que necessitam ter a estas pessoas sobre si para se sentirem protegidos e guiados neste mundo confuso. Não são poucas as pessoas que se enquadram nestes dois perfis, mas eu oro ao Senhor para que nos transforme em uma comunidade de pessoas crescidas, que sabem (e fazem questão de não esquecer) que somos apenas companheiros de peregrinação. Todos viajantes, que se alegram por não terem que caminhar sozinhos, que cantam com contentamento seus louvores porque isto traz saúde e paz.
Ninguém precisa ser maior e melhor, nem menor e pior do que eu para andar comigo, até porque, se olharmos para dentro das pessoas notaremos que tais diferenciações são meramente resultado de nossos preconceitos e preferências pessoais. Acredito que chegou o tempo de realizarmos uma revolução simbólica no meio cristão. Revolução sim, mas não uma novidade. Esta mesma radical mudança já foi operada muitas vezes na história da Igreja, começando com Jesus de Nazaré, que não era nem sacerdote, nem levita, nem escriba, nem doutor da Lei, era apenas carpinteiro. Ele é o nosso mestre. O Espírito de Deus é o nosso Mestre. Ele é o nosso Pastor e Guia! Creiamos nisso e vivamos em amor, como seus discípulos e irmãos uns dos outros.
Lembro também que Francisco de Assis empreendeu em seus dias uma viragem semelhante. Num mundo medieval cheio de autoridades eclesiásticas e títulos de nobreza, ele teve a coragem de ser apenas “Frei Francisco”, irmão Francisco. Gostava que lhe chamassem de “fratello”, de irmãozinho; de “povorello”, o pobrezinho. Deste modo, queria se fazer irmão de todos, mas, principalmente dos mais pobres de seu tempo. Pregava vestido de trapos e descalço, como qualquer pedinte. No momento de sua morte pediu para que seus irmãos o colocassem no chão, para que morresse como morrem os indigentes. Era assim que ele se considerava, tomado por um profundo sentimento de pecado, mas que contrastava com seu imenso amor para com todas as pessoas, e até mesmo para com todas as criaturas de Deus.
O meio religioso está repleto de pop-stars, homens e mulheres que são shows ambulantes. Que Deus nos livre disso! Que entre nós só o Senhor seja a estrela e que só o Espírito seja glorificado. Escolhi três palavras que devem ser os signos de nossa Comunidade: fraternidade, simplicidade e serviço. Ajuda-nos Jesus a sermos assim!

Com carinho,

Martorelli Dantas
martorelli@martorelli.org

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Em Busca da Morenidade Perdida

Algumas pessoas me perguntaram o que eu queria mesmo dizer com a expressão “uma igreja morena”. Por igreja morena eu pretendo definir uma comunidade cujos traços essenciais são não apenas brasileiros, nordestinos e recifenses, mas também litorâneos e contemporâneos. Um grupo de irmãos que aceitou o seu tempo e espaço, que não está vinculado a algum momento do passado, tendo eleito um período da história da humanidade como o mais feliz, mais fecundo e mais apropriado para se viver; fazendo agora todo esforço para se reportar moral, teológica, ideológica e esteticamente à este período.

Quero que sejamos gente daqui e de agora, mas, simultaneamente, pessoas que vivenciam o mistério da contínua encarnação do Verbo. Se a igreja é o “corpo de Cristo”, este precisa estar em constante processo de humanização, de descer e fazer-se menino entre nós. Aqueles que seguem o Caminho precisam ser capazes de não apenas falar a língua de seus semelhantes, como também de imiscuir-se em sua cultura e, a partir dela, anunciar as boas novas de que Deus ama o pecador, que não está zangado com ele, que o quer bem perto de Si. Que o Senhor ama fazer festas e que não há uma só alma que se volte para Ele sem que isto produza nEle vontade de música, de danças e banquetes.

Não foi isso que nos ensinou a parábola do Filho Pródigo? Que Deus está à espera que seus filhos voltem, para que os músicos comecem a tocar e que as chamas do churrasco a crepitar? Quero viver esta festa, quero dançar no baile dos arrependidos, um baile sem-máscaras e, por isso mesmo, absolutamente desconcertante. Antigamente as pessoas viviam sem-máscaras e, de vez em quando, colocavam uma para um momento especial. Hoje vivemos de máscaras (inclusive eu) e as tiramos raramente em ocasiões singulares. A festa do amor de Deus tem o requinte, o glamour e a sofisticação de um baile sem-máscaras. Evento raro em nossos dias.

Se você leu estas últimas palavras e ficou pensando: Martorelli está se referindo a fulana e a beltrano... Então não entendeu nada do que é ser uma igreja morena. Nossa morenidade se expressa em nossa preocupação com o tempo presente, o lugar presente e as pessoas presentes. Se estamos nos reportando ao passado e aos indivíduos que no passado fizeram parte de nossas vidas é porque somos gente de ontem e este tipo de pessoa não é morena. Conheço homens e mulheres em nossa Comunidade de pele bem clarinha, de olhos e cabelos alvos, mas com uma alma morena. Identifico no mundo seres ‘bem-passados’, como eu, mas cujos sentimentos ainda não se tornaram morenos.

Um dia todos nós fomos morenos, mas com o tempo nos esquecemos disso. Foi uma época em que a classe social, a cultura, o poder político de alguém não importava nada. O que interessava mesmo é que tinha aparecido mais uma pessoa para brincar de esconde-esconde ou pular corda. Um tempo em que a nossa memória era tão curta como a de um menino de cinco anos que diz pro amiguinho: “nunca mais... nunca mais em toda a minha vida eu vou brincar com você”. E que cumpre a promessa durante os três próximos minutos, até que uma bola corra na campina ou que a tia chama para comer biscoito com suco de laranja. Aí é só abraço e amizade, coisas morenas.

Quando Deus quis que o seu Filho viesse ao mundo, escolheu uma moça, virgem de alma, corpo e coração, uma menina morena. Depois que ela deu à luz o seu primogênito muitas coisas aconteceram. Seu coração amoroso e simples foi ferido pelos golpes da injustiça e da ingratidão. Seu rosto doce e meigo foi sulcado pelas torrentes de lágrimas que de seus olhos brotaram. Sua voz, antes sempre embalada por cantigas de roda, aprenderam a exprimir o inexprimível em gemidos solidários àquele que de si saíra, mas de si nunca partira. Nem sei porque chamam ‘parto’ o nascimento de uma criança, elas nunca partem. Deve ser porque se partem os pais e começam a viver não mais apenas suas vidas, mas tantas quantas deles partiram.

Maria-mulher é em tudo diferente da Maria-menina, só uma coisa nunca se perdeu, foi sempre morena. Vejo-a morena no cântico que compõe para exaltar a Deus pelo anúncio que recebera de que seria mãe do Salvador; é morena no templo ouvindo as profecias de Ana e Simeão; em sua solicitude e disponibilidade para que a festa não acabe por falta de vinho nas bodas de Caná da Galiléia, mas vejo-a assim, sobretudo, ao pé da cruz... sem desespero, sem ansiedade, sem ódio ou cólera... só dor e silêncio, como se soubesse o que sabiam os amigos de Jó, que quando a dor é muito grande não importam palavras, mas é indispensável e impossível de avaliar a importância de uma presença amiga.

Domingo, quando os vi neste auditório do Hospital de Aeronáutica, vocês que aqui não precisavam estar. Que abriram mão do conforto e da segurança para me acompanharem nesta insólita aventura que é plantar não apenas uma nova igreja, mas um jeito novo de ser igreja, me dei conta que vocês são morenos; de que se eu quiser escolher modelos de morenidade basta tomar aleatoriamente a mão de qualquer um que caminha conosco e colocá-lo de pé; que quem mais precisa aprender aqui sou eu. Eu que ainda não sou moreno, mas que estou pegando sol pra caramba! Muito obrigdo!

Sou grato ao Senhor pela semente que nos deu. Pelo Menino-Moreno que foi adorado pelos magos, pastores e anjos, seres em tudo diferentes, mas tão iguais quando se prostram diante dAquele que do pouco faz muito, que do enfermo faz são, que do só faz guia, que da água faz vinho, que do pão faz corpo, que da dor faz esperança, que do começo faz vitória. Glórias, honras e louvores unicamente ao Seu nome que é santo, puro e perfeito. Que sendo Deus, não julgou ser humilhante demais, por amor, fazer-se homem, posto que nada é humilhante demais se é feito por amor. Ele, morrendo moreno, nos fez filhos de Deus. Aleluia!!!

Com carinho,

Martorelli Dantas
martorelli@comunidadecrista.org

sábado, dezembro 01, 2007

O que é a Comunidade Cristã?

1. É só UMA comunidade de cristãos reunidos para cultuar ao Deus Vivo
2. Que têm suas marcas essenciais na inclusividade e no amor ao próximo
3. Que confessam a Jesus como caminho de salvação e redenção de todos os homens
4. Que encontram no Evangelho de Jesus um convite para a vida e para a fraternidade
5. Que reconhecem os terríveis efeitos dos pecados do desamor e da indiferença
6. Que afirmam como mandamento supremo o amor a Deus, a si mesmo e ao próximo
7. Que abrem mão de toda forma de julgamento dos semelhantes
8. Que buscam um relacionamento fraterno com líderes e outras comunidades cristãs
9. Que reconhecem e celebram os sacramentos do batismo e da eucaristia
10. Que são dirigidos de modo conciliar
11. Nela todos são leigos e sacerdotes, simultaneamente
12. Nela os dons do Espírito Santo são expressos com ordem e decência

O que não é a Comunidade Cristã?

1. Não é uma denominação nem está ligada a qualquer grupo denominacional
2. Não pretende plantar igrejas nem se espalhar pelo mundo
3. Não busca atrair para si cristãos de outras comunidades
4. Não tem nem buscará qualquer vinculação política
5. Não reconhece qualquer distinção qualitativa entre os seres humanos
6. Não busca a aquisição ou acúmulo de bens nem patrimônio
7. Não vê sentido em nada que não esteja sendo usado para servir ao próximo
8. Não adora nem cultua senão ao Deus Pai, Filho e Espírito Santo
9. Não nega a participação dos sacramentos a quem quer que seja
10. Não reconhece o caráter revelacional das culturas humanas
11. Nela os ministros são canais de graça, não autoridades religiosas
12. Nela não se reconhecem barreiras denominacionais, mas a cooperação dos cristãos
Nós estamos aqui e um dia vamos ter o prazer de dizer: Eu estava lá!

É uma experiência fantástica dar à luz a uma vida. Ver nascer um novo ser surgindo de nossas próprias entranhas, vingando apesar das intempéries, enchendo de brilho, alegria, sorrisos e brinquedos este mundo tão carente de gargalhadas simples, transbordantes e sinceras. Ver crescer entre nossas mãos e joelhos uma nova pessoinha com uma personalidade toda sua, um timbre de voz peculiar e cheiro de alma nova. Senti isso muitas vezes em minha breve existência. Foi assim quando chegou Thiago, depois Thalita e Thainá, foi assim também outras centenas de vezes em que contemplei aqueles que se encontraram com Cristo e sentiram surgir dentro de si uma nova capacidade de emoção ante as realidades do Espírito.

Hoje estamos vendo nascer uma Comunidade Cristã. Isto acontece aqui, nesta terra sagrada do Hospital de Aeronáutica, posto que não é menos que sagrado qualquer lugar onde se dá cotidianamente o milagre da vida. Distante poucos metros daqui, na maternidade do hospital, nasceram meus sobrinhos Heitor e Arthur. Eu estava aqui! Nunca vou esquecer-me disso. Estamos vivendo um momento assim, mágico e inesquecível. Daqui a muitos anos vamos dizer aos nossos netinhos: Eu estava lá! Veja, este foi o boletim que distribuíram no primeiro encontro da Comunidade Cristã. Tá vendo? Eu estava lá!

Mas não se engane! Ela não ganha vida diante dos seus olhos. Você não é meramente uma testemunha de um acontecimento em relação ao qual não tem outra responsabilidade senão aquela de felicitar os afortunados pais. A Comunidade Cristã está nascendo com você, através de você e dentro de você. Nossas vidas nunca mais serão as mesmas a partir de hoje. Antevejo muito trabalho, noites mal-dormidas, instantes em que nos perguntaremos: o que fazer? Nem precisa se assustar, é assim, nada que amamos nasceu grande, mas desde que nasceu fez surgir em nós esta certeza de que é para sempre. Hoje é pra sempre, e pra sempre é muito tempo!

Nossa Comunidade, pequena e humilde, vem ao mundo como Aquele a quem servimos e proclamamos. Caminharemos como fizeram os magos, seguindo uma estrela que nos conduzirá passo-a-passo, decisão-a-decisão, encontro-a-encontro. Ela nasce nesse canto que não é seu, já na certeza de que aqui não é pra ficar. Estamos de passagem, como Jesus e a Sagrada Família, peregrinando em pleno mês de dezembro. Talvez tenhamos que ir para o Egito, fugindo de quem intenta nos tirar vida. Mas, como foi com José, pai por adoção do Menino Deus, se um sonho nos leva, outro sonho nos faz voltar.

E que sonho..... creio que toda a minha vida sonhei com uma igreja como esta que vemos se entretecer em nosso meio. Marcada pela fraternidade, pela simplicidade e pela fidelidade. Sem prata nem ouro, mas com confiança suficiente em Deus para dizer a este mundo paralítico: LEVANTA! – não se deixe levar pelo abatimento, pela frustração, pela sensação de impotência ante a injustiça; mas ANDA – coloque-se em marcha, mexa-se, mude as coisas, deixe suas próprias pegadas no chão sempre virgem da praia lambida pelo mar.

Seguiremos o nosso itinerário, seja ele qual for. Sei tanto sobre o nosso futuro quanto qualquer um de vocês. Mas sei também que não é preciso saber. O nosso Pastor está no comando, Ele mesmo nos conduzirá. Já foram tantas maravilhas até aqui, muitas outras virão do alforje do único que sabe por onde iremos, em que ritmo e na companhia de quem. Ele nos uniu e vai trazer no tempo certo todos aqueles que devem, precisam e importa caminhar conosco. Quanto a nós... vamos pregando, amando, servindo, rindo, brincando. Existindo como crianças que somos, nas infindas aventuras que a existência nos proporciona.

Mas para que ninguém pense que eu não carrego certezas; que nada sei sobre a nossa vida e caminhada, aproveito a oportunidade para apresentar a todos vocês o meu precioso conjunto de três certezas: (1) eu sou pecador; (2) Deus me ama mesmo assim; (3) no final, depois de tudo, Ele virá e me abraçará e este abraço nunca terá fim. Bem, mas o que isso tem a ver com a Comunidade? Muito. Elas podem ser traduzidas em termos comunitários nestas outras três poderosas convicções: (1) em nossa comunidade ninguém vai ser perseguido, desrespeitado ou maltratado por ser pecador. Nós somos pecadores; (2) todas as pessoas que aqui entrarem, vindas de onde vierem, marcadas seja por que tragédia for, serão amadas, acolhidas, tratadas e restauradas, porque Deus nos ama mesmo assim; (3) no final – sempre há um final – será o abraço, muitos abraços... mais abraços. Verdadeiros e íntimos como o Eterno Abraço.

Cantemos juntos por uma vida morena!

Tu és Fiel Senhor!

Com carinho,

Martorelli Dantas