Livres do Desânimo (ou de como estou velho, mas não estou acabado)
Hoje, eu fiz 39 anos e pela primeira vez ouvi, com certa ironia, a tradicional canção “Parabéns pra você”. Fiquei pensando no porquê das pessoas estarem me felicitando, se o que meu aniversário indica é que eu estou me acabando, que a minha vida está chegando ao fim, que, de modo inexorável, a minha morte galopa lépida em minha direção? Senti bater em mim, quase de modo inédito, o sentimento tão conhecido dos poetas e cantores, esta angústia de me saber finito.
Lembrei-me de Vinícius, dizendo que, no final das contas, tudo se resume nisso: “...por cima uma laje, por baixo a escuridão. É fogo irmão, é fogo irmão!”. Recordei-me de que uma vez ele disse: “Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada ela (a morte) virá me abrir a porta como uma velha amante, sem saber que é a minha mais nova namorada”. E como esquecer de Gil, cantando que "se eu quiser falar com Deus, tenho que dizer adeus, dar as costas, caminhar, decidido, pela estrada que, ao findar, vai dar em nada, nada, nada ... do que eu pensava encontrar”. E para que os mais jovens não digam que só a rapaziada “das antigas” tinha tais pensamentos, cito meu querido Paulinho Moska, perguntando: “Então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada, quando se parte rumo ao nada?”.
A minha alma foi tomada por assalto e quase permiti que a tristeza a invadisse subitamente. Foi quando me ocorreu o texto de Paulo, registrado na 2ª carta aos Coríntios, no capítulo 4, versículos de 16 a 18, onde se lê: “Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas”.
Não há motivos para eu me deixar desanimar (palavra que vem do latim e significa perder o espírito, esvaziar-se do fôlego da vida), e o Apóstolo explica o porquê. Ainda que o meu “homem exterior”, o meu corpo e mesmo as posses que tenho se desfaçam com o tempo, há algo em mim que não envelhece nem caduca jamais, o meu “homem interior”, o meu espírito, o meu relacionamento com o Deus Vivo e Verdadeiro. Nele, eu posso mais hoje do que podia quando tinha 17 anos. Como disse Jesus, nem a traça, nem a ferrugem, nem o ladrão (tudo isso que é o tempo) podem fazer com que eu perca o meu tesouro que está nos céus.
Lá, vale a pena investir, até porque, assim fazendo, podemos andar seguros na Terra. Não como o arrogante milionário, que coloca sua confiança naquilo que um ato governamental ou uma repentina variação de mercado podem destruir de uma hora pra outra, mas vestidos da paz, filha da certeza de sermos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo das riquezas do Pai. Quem sabe disso rouba da morte o seu aguilhão (1º Cor. 15:55), livra-se do pavor da contínua decomposição dos seres e pacifica a alma diante das incertezas do futuro.
Uma das idéias que mais me impressiona na passagem de 2ª Coríntios é aquilo que Paulo chama de “leve e momentânea tribulação”. O que seria isso? A resposta está alguns capítulos depois, quando ele descreve as coisas que vinha passando por causa do Evangelho: suas prisões, seus naufrágios, os açoites dos quais foi vítima, as traições que sofreu, a fome e a nudez. Isso era a sua “leve e momentânea tribulação”. Como é possível? Deixem que ele próprio responda: tudo isso é pequeno e irrelevante quando contrastado com a eterna glória que já começa a ser derramada sobre nós, a ponto de já sentirmos o seu peso. Imagino como os tradutores da Bíblia devem se encontrar em maus lençóis para traduzirem a expressão grega utilizada pelo autor, hiperbolê eis hipérbolê, ou seja, um exagero que leva a outro exagero, algo sem qualquer comparação. A nossa dor é tão pouca, quando comparada a um prêmio tão grande; os nossos dissabores são tão pequenos, quando os pomos em frente a tudo quanto Deus nos tem dado e ainda nos dará!
Por fim, o nosso amigo nos ensina que se quisermos ser, de fato, felizes, precisamos aprender a ver o invisível. Parece que Antoine de Saint-Exupéry, ao escrever o Pequeno Príncipe, tinha em mente este texto de Paulo, e disse que “o essencial é invisível aos olhos”, mas esqueceu de dizer que é preciso que tenhamos olhos para ver o essencial, ver o invisível. Há somente um olhar capaz disso, o olhar da fé. Aquele que fez com que Moisés, “pela fé, abandonasse o Egito, não ficando amedrontado com a cólera do rei; antes, permanecesse firme como quem vê Aquele que é invisível” (Heb. 11:27).
Não quero ser eternamente jovem, quero ser eternamente feliz!
Com carinho,
Martorelli Dantas
Hoje, eu fiz 39 anos e pela primeira vez ouvi, com certa ironia, a tradicional canção “Parabéns pra você”. Fiquei pensando no porquê das pessoas estarem me felicitando, se o que meu aniversário indica é que eu estou me acabando, que a minha vida está chegando ao fim, que, de modo inexorável, a minha morte galopa lépida em minha direção? Senti bater em mim, quase de modo inédito, o sentimento tão conhecido dos poetas e cantores, esta angústia de me saber finito.
Lembrei-me de Vinícius, dizendo que, no final das contas, tudo se resume nisso: “...por cima uma laje, por baixo a escuridão. É fogo irmão, é fogo irmão!”. Recordei-me de que uma vez ele disse: “Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada ela (a morte) virá me abrir a porta como uma velha amante, sem saber que é a minha mais nova namorada”. E como esquecer de Gil, cantando que "se eu quiser falar com Deus, tenho que dizer adeus, dar as costas, caminhar, decidido, pela estrada que, ao findar, vai dar em nada, nada, nada ... do que eu pensava encontrar”. E para que os mais jovens não digam que só a rapaziada “das antigas” tinha tais pensamentos, cito meu querido Paulinho Moska, perguntando: “Então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada, quando se parte rumo ao nada?”.
A minha alma foi tomada por assalto e quase permiti que a tristeza a invadisse subitamente. Foi quando me ocorreu o texto de Paulo, registrado na 2ª carta aos Coríntios, no capítulo 4, versículos de 16 a 18, onde se lê: “Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas”.
Não há motivos para eu me deixar desanimar (palavra que vem do latim e significa perder o espírito, esvaziar-se do fôlego da vida), e o Apóstolo explica o porquê. Ainda que o meu “homem exterior”, o meu corpo e mesmo as posses que tenho se desfaçam com o tempo, há algo em mim que não envelhece nem caduca jamais, o meu “homem interior”, o meu espírito, o meu relacionamento com o Deus Vivo e Verdadeiro. Nele, eu posso mais hoje do que podia quando tinha 17 anos. Como disse Jesus, nem a traça, nem a ferrugem, nem o ladrão (tudo isso que é o tempo) podem fazer com que eu perca o meu tesouro que está nos céus.
Lá, vale a pena investir, até porque, assim fazendo, podemos andar seguros na Terra. Não como o arrogante milionário, que coloca sua confiança naquilo que um ato governamental ou uma repentina variação de mercado podem destruir de uma hora pra outra, mas vestidos da paz, filha da certeza de sermos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo das riquezas do Pai. Quem sabe disso rouba da morte o seu aguilhão (1º Cor. 15:55), livra-se do pavor da contínua decomposição dos seres e pacifica a alma diante das incertezas do futuro.
Uma das idéias que mais me impressiona na passagem de 2ª Coríntios é aquilo que Paulo chama de “leve e momentânea tribulação”. O que seria isso? A resposta está alguns capítulos depois, quando ele descreve as coisas que vinha passando por causa do Evangelho: suas prisões, seus naufrágios, os açoites dos quais foi vítima, as traições que sofreu, a fome e a nudez. Isso era a sua “leve e momentânea tribulação”. Como é possível? Deixem que ele próprio responda: tudo isso é pequeno e irrelevante quando contrastado com a eterna glória que já começa a ser derramada sobre nós, a ponto de já sentirmos o seu peso. Imagino como os tradutores da Bíblia devem se encontrar em maus lençóis para traduzirem a expressão grega utilizada pelo autor, hiperbolê eis hipérbolê, ou seja, um exagero que leva a outro exagero, algo sem qualquer comparação. A nossa dor é tão pouca, quando comparada a um prêmio tão grande; os nossos dissabores são tão pequenos, quando os pomos em frente a tudo quanto Deus nos tem dado e ainda nos dará!
Por fim, o nosso amigo nos ensina que se quisermos ser, de fato, felizes, precisamos aprender a ver o invisível. Parece que Antoine de Saint-Exupéry, ao escrever o Pequeno Príncipe, tinha em mente este texto de Paulo, e disse que “o essencial é invisível aos olhos”, mas esqueceu de dizer que é preciso que tenhamos olhos para ver o essencial, ver o invisível. Há somente um olhar capaz disso, o olhar da fé. Aquele que fez com que Moisés, “pela fé, abandonasse o Egito, não ficando amedrontado com a cólera do rei; antes, permanecesse firme como quem vê Aquele que é invisível” (Heb. 11:27).
Não quero ser eternamente jovem, quero ser eternamente feliz!
Com carinho,
Martorelli Dantas
2 comentários:
Conte seu jardim pelas flores,
nunca pelas folhas caídas.
Viva cada minuto de sua vida com
se fosse viver eternamente.
E cada hora que passar não conte
pelos ponteiros romanos de um relógio e sim pelo pulsar do seu coração.
E através de toda a sua existência
conte sua idade pelos amigos que
conquista e nunca pelos anos que vive."
"Caminhe com confiança e ousadia...Há uma mão lá em cima que o ajudará a avançar."
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