quinta-feira, maio 24, 2012

O amor é sofredor!

Quando Paulo, no capítulo 13 da primeira carta aos coríntios, elencou as características e virtudes do amor, por alguma razão, colocou em primeiro lugar esta terrível verdade: o amor é sofredor (algumas versões traduzem como "paciente"). Por que será que o amor é sofredor?


Porque nós não escolhemos a quem amar, somos assaltados pelo amor. Quando nos damos conta, já estamos amando e aí é tarde demais. Amamos quem merece e quem não merece ser amado. Amamos quem também nos ama e quem nunca nos amará. Amamos quem reconhece e valoriza o nosso amor e quem nem se dá conta que ele existe. Sendo assim, o amor não poderia ser outra coisa, senão, sofredor.


O amor é sofredor porque não escolhemos quando amar. Ele nos surpreende em momentos inesperados, quando juramos por tudo que é mais sagrado que vamos ficar quietos e serenos, é justo neste inopinado momento que ele se manifesta mais devastador. Chega dizendo que não sabe, não pode nem quer esperar. Chega se impondo, se anunciando imperioso como um general romano em cortejo vitorioso pela Via Ápia, abram passagem.


É sofredor porque confina a quem ama, não lhe deixa escapatória ou rota de fuga. É um sequestro, um rapto talvez. Algo que nos condena perpetuamente, que nos lança no terrível calabouço de ver a sua felicidade vinculada e dependente da felicidade do ser amado. Faz dele um órgão externo, um fígado que ganhou pernas e saiu por aí, onde quer que vá vamos nós, clamando para que a Misericórdia o livre de sofrer. Será sempre assim, depois de amar é o fim.Se o amor é sofredor e nada podemos fazer em contrário, precisamos aprender a amar, para, quem sabe, sofrer menos.


Em última análise, é esta a razão de todo engenho e arte humana, sofrer menos. O que posso dizer aos meus leitores, que possa lhes ajudar e singrar as sendas de uma vida de "menos dor"?Sem dúvida, o primeiro passo é não esperar do ser amado que lhe ame de volta, que seja como você deseja, que se comporte conforme os padrões mais nobres e elevados definidos por tua consciência. Faça isso não, só te vai fazer sofrer mais. As pessoas precisam ser elas mesmas, caso contrário não conseguem ter paz. O ser amado deve se sentir livre, deve se sentir autorizado a ser ele mesmo. Deve poder se despir diante de você, sem temer o olhar avaliador, que mensura, que aprova ou desaprova. Quem ama não deve estabelecer condições para o amor.


Em seguida, por pura estratégia de não sofrer, perdoe o ser amado. Você merece perdoar! Perdoar não é um gesto de grandes almas ou de pessoas especiais, é só uma manifestação de simplicidade e sabedoria existencial. De que adianta cobrar de alguém uma dívida que ele não pode pagar? O que foi dito não pode ser desdito, o que foi feito não pode ser desfeito. O que foi se foi e precisa "se ir" de nós também. Perdoar não é esquecer, é coisa bem mais objetiva e simples (sem que por isso seja fácil), perdoar é abrir mão do direito legítimo de cobrar uma dívida que o outro não pode pagar.


Em último lugar e, talvez, o mais importante... AME sem medo de sofrer. Algumas pessoas não se entregam ao amor por medo de que este amor lhes machuque. Tudo bem, estas pessoas não sofrem por causa disso? Sofrem, mas sem amar inteiramente. Passam a vida "dançando de macaco" (coisa comum antigamente, quando as moças punham a mão no peito do rapaz para ir regulando a distância do mesmo, um cuidado para evitar afoitesas). De fato isso é seguro, mas isso é dançar?


Na vida teremos dores e aflições, amar faz sofrer... tudo isso é verdade, mas alguém conhece coisa mais gostosa do que amar? Algo mais pleno e realizador? Como disse o Poetinha, "para isso fomos feitos..." para amar e ser amados. Como fez o carpinteiro viver de amor e morrer de amar.


Extrato da mensagem pregada no aniversario de Eliane Marques, em L'Abri, no dia 21/05/12.

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