sexta-feira, dezembro 01, 2006

O Começo do Fim da Igreja Evangélica Brasileira

O título deste artigo pode parecer dramático ou sensacionalista, mas segue na esteira do que muitos importantes líderes cristãos têm apontado como sendo uma posição pessoal e/ou comunitária, uma espécie de “fim para mim”. Refiro-me a figuras como o pastor de origem batista Ed René Kivitz, que em seu recente livro “Outra Espiritualidade”, afirma estar à procura de um outro modo de expressar a sua fé em Deus e a sua fidelidade a Cristo, que não àquela que ganhou a alcunha de evangélica. Ele diz não mais se ver naquilo que pode hoje ser identificado por este adjetivo.
Antes dele Ricardo Gondin, líder internacionalmente conhecido da Igreja Assembléia de Deus, escreveu em carta aberta amplamente veiculada na Internet, seguindo o mesmo diapasão, que não é mais evangélico. O texto de Gondin me soou mais acre que de Kivitz, nele o pastor que começou o seu ministério na capital cearense, mas que hoje está radicado em São Paulo, diz que a igreja evangélica no Brasil transformou-se numa fábrica de medos e neuroses, marcada por um forte legalismo e com seu corolário que é a burocracia forense, de tribunais eclesiásticos e assembléias deliberativas, onde muito se discute, machuca, humilha e constrange, mas pouco se delibera.
Um outro cristão de renome que parece ter declaradamente deixado as fileiras do evangelicalismos tradicional foi Caio Fábio. Tendo sido um dos maiores evangelistas da história de nosso país com as cruzadas de evangelização que literalmente cruzaram o país nas décadas de 80 e 90 e o principal articulador da Aliança Evangélica Brasileira (AEVB), Caio guarda hoje muitas reservas em relação à maioria das iniciativas eclesiásticas tidas como evangélicas que têm notoriedade na mídia televisiva e radiofônica. Suas acusações carregadas de uma terminologia psicanalítica apontam um grande seguimento das igrejas evangélicas como estando a torturar emocional e espiritualmente os fiéis, quer seja instalando neles “culpas fabricadas em laboratório”, quer pelas promessas de saúde e prosperidade à “preços módicos”.
Por que será que estas e outras tantas figuras de peso estão se “desassociando” do movimento evangélico? Creio que poderíamos apontar pelo menos duas razões: em primeiro lugar o conceito de “evangélico” se esgarçou tanto que já não sustenta nada. Em outras palavras, cabem tantas formas diferentes de crenças e cultos debaixo desta rubrica que ela já não designa claramente nada. A Igreja Universal do Reino de Deus se diz evangélica e a Igreja de Confissão Luterana faz a mesma coisa, mas não há sequer um aspecto em que estas duas comunidades se toquem. A segunda está muito mais próxima da Igreja Católica Romana, ao tempo que a primeira está mais próxima do Espiritismo Kardecista, dois grupos que estão fora do mundo dito evangélico. Imaginem a confusão disso tudo...
Em segundo lugar, durante o último quartel da década de 90 a igreja evangélica passou por uma fase de “profissionalização marketeira” de seu clero e de suas instituições, ou seja, as comunidades locais começaram a ser vistas como “um negócio”, “um empreendimento” e os números começaram a se tornar mais importantes do que o conteúdo da pregação e do ensino. Na verdade, a pregação e o ensino começaram a ser vistos como meios para alcançar os cobiçados números (freqüentadores e receita). Em face disso os discursos começaram a ser cada vez mais sobre a vida aqui e agora, ao passo que o céu foi sendo deixado para um segundo plano. Muitos pastores se converteram em gurus de auto-ajuda, e as liturgias foram dirigidas para promover motivação mais do que adoração. O que funciona em muitos aspectos, mas representa uma ruptura com um cristianismo histórico que os referidos líderes dizem estar vinculados.
O fato é que mais do que nunca nós precisamos relembrar as palavras de Humerto Rohden, que nos ensinou que mais importante do que ser cristão (ou evangélico) é ser crístico. Mais do que crer no que Jesus ensinou, urge viver como ele viveu. O Brasil é uma terra de liberdade religiosa e de muito sincretismo, devemos ter a liberdade para dizer que nós não fazemos parte deste ou daquele movimento, sobretudo quando a agenda dos interesses destes se afastou de nosso ideal de espiritualidade.

Com carinho,

Martorelli Dantas
martorelli@reconciliacao.org

10 comentários:

Anônimo disse...

Pastor essa sua visão sobre o ser ou não evangélico é muito visto que é uma realidade. Temos que parar de nos preocupar com o que dizemos ser e parar pra pensar no que verdadeiramente somos, pois enquanto só falamos, como é o caso das Igrejas citadas no texto, deixamos de fazer

Anônimo disse...

Não sei se felizmente ou infelizmente o Sr. está certo.
Esse é um fenômeno natural que ocorre quando o foco da atenção e da energia é voltado mais para a forma que para o conteúdo.
As formas (instituições) são humanas, portanto, falhas e condenadas à morte por natureza.
O conteúdo é Deus e a Sua Palavra, portando, imutável e eterno.
Agarrar-se ao impermanente é perda de tempo e de energia.
Lembro algo que o Sr. me falou essa semana e que cabe muito bem nesse caso: Devemos dar mais atenção à criança que à manjedoura. Esta é útil, enquanto aquela é essencial.
Um grande abraço.

Anônimo disse...

parabens reverendo, mais uma vez vejo e sinto um espirito profetico, diferente dos q temos visto por ai, profetico como viamos na biblia!

fiko feliz de estar perto de tudo isso

Anônimo disse...

Uma boa radiografia dos ditos "evangélicos"!

Anônimo disse...

conheci o ed rené há umas semanas atrás com o livro quebrando paradigmas....acho que este assunto ainda tem muito pra dar! beijo pastor

Anônimo disse...

"Não basta ser pai, tem que participar". Pegando esse jargão popular, não basta se dizer Cristão, tem que viver as verdades do Cristianimo. A solução não é abandonar as fileiras do "evangelho" e sim, procurar ser sal e luz no meio dos evangélicos, abraçando a causa tendo, como um dia ecreveu o Pr. Ricardo Gondim: "Orgulho de ser evangélico". Devemos focar na grandiosidade da missão que nos foi outorgada, e não nos preocuparmos com essa ou aquela conduta. As pessoas precisam ouvir que existe uma alternativa para suas vidas.

Irma disse...

Olá pastor, fui seu aluno no spn e agora estou em Brasília/DF. É um prazer poder falar com o senhor.Como seus comentários são sempre muito relevantes, claros e atuais. Confesso que ás vezes tenho me sentindo assim como os nomes citados no seu comentário: Caio Fábio...Tenho estado muito desapontado e desanimado com o 'mundo evangélico". Entretano, continuo nas fileiras, acho que ainda é através dela que podemos melhorar este mundo, claro, com a intervenção do Espírito Santo.Parece mesmo que quando as coisas são fáceis de mais o Cristianismo perde sua força, seu sal...Acho que está faltando mesmo um verdadeiro reavivamento espiritual. Um forte abraço.

Anônimo disse...

O título "O Começo do Fim da Igreja Evangélica Brasileira" é bastante forte, mas há pontos de congruência na abordagem. Sinto-me também como as personagens da história, pregando a mensagem da cruz em uma igreja local cercada de outras organizações que estão mais próximas do kardecismo espírita ou de clínicas de terapia em grupo e auto-ajuda que disputam o dinheiro de cada fiel. Mas por fim, a verdadeira igreja de Cristo triunfará, porque "as portas do inferno não prevalecerão contra ela" e o "muitos me dirão naquele dia..." finalmente se cumprirá.
Parabéns, pastor Jean.
Pastor Videira.

Anônimo disse...

Eu sempre desejei viver o evangelho da graça e cheio de graça e amor. quando percebí que àquelas estruturas
religiosas e o modelo evangélico se tornaram vazios de significado, decidí me desligar. Eu sou o ramo ligado a Videira Verdadeira e Deus Pai é o agricultor que cuida de mim e com todas as minhas imperfeições, sou sua igreja aqui na terra.

Anônimo disse...

eu me agrado muito de perceber que existem pessoas q estao vendo a igreja de um angulo mais maduro que q maioria. porem eu preciso dizer q nao é apenas uma questao denominacional,ou se este ou aquele esta certo ou errado, mas precisamos acreditar que as portas do inferno nao prevalecerao contra a igreja. as doutrinas humanas nao podem por fim no q JESUS instituiu para o seu povo. a igreja (verdadeira) nao pode ser encareda como um clube ou uma associacao ou uma mera denominacao religiosa. existem muitas coisas q precisao mudar e é verdade, mas se voltarmos apalavra de DEUS veremos que desde a igreja primitiva haviam serios problemas na igreja.das sete igrejas citadas no livro de apocalipse apenas uma nao foi reprovada em suas atitudes, mas todas receberam promessas de salvacao. Deus pode mudar a hitoria de quem quer que seja eucreio no poder no poder da sua palavra