Procura-se uma Pessoa para Amar
Procura-se uma pessoa para amar. Deve gostar do mar, uma vez que estamos em Boa Viagem. Deve sentir prazer em abraçar crianças, sobretudo aquelas que não são suas. Deve gostar de andar, de andar muito, de cidade pra cidade, de engenho pra engenho, e fazê-lo com um sorriso no olhar, para que as gentes do caminho não se sintam avaliadas com a sua chegada. Pelo contrário, que os seus passos tragam para o mais simples camponês e para o mais nobre senhor de terras a certeza de que somos todos iguais diante do Criador e de que há dentro de nós esta carência essencial, que é a necessidade de amar e corresponder em amor. Deve gostar de olhar passarinhos e deve querê-los livres, porque querer ver sempre o mesmo passarinho na sua varanda e para isso ali confiná-lo, é ter gosto pelo canto do desconsolo e não pelo louvor da saudação que só os livres sabem dar (“junto aos rios de Babilônia nos sentamos e choramos. Os que nos mantinham cativos nos pediam canções. Como cantaremos os louvores de Israel em terra estranha?” Salmo 137).
Não há necessidade de que seja bonita como as atrizes de Hollywood, nem tem que ter as formas bem definidas dos ‘candidatos a louco’ do Big Brother. Não estamos à procura deste tipo de beleza que passa com a pressa que tem a nuvem e o apogeu da flor. Isso não significa que tal pessoa tenha a faculdade de ser feia. Não há nada mais insuportável do que a feiúra. Feia é toda pessoa que não sabe sorrir ou que o faz de modo plástico e hipócrita. Feia é aquela que não tem paz no coração, cujos pensamentos e sentimentos são sempre um campo de batalha. Que olha pro irmão e não vê nele uma imperdível oportunidade de crescer em amor e compreensão. A feiúra não se disfarça pelo poder da maquiagem, já que quando não se manifesta na face, torna-se inolvidável no toque, particularmente naquele que se faz com as palavras. Desde criança aprendemos que não se deve dizer ‘nome-feio’, o que não nos ensinaram é que todo nome é feio na boca de quem o é.
É indispensável que esta pessoa queira amar todos os dias e não apenas nas noites de lua-cheia. Porque o verdadeiro amor não procura ocasião, não se mantém em potência, deixando de se manifestar por pura pretensão de discrição. O amor que se procura é torrente, é avalanche que se derrama sobre todos, indistintamente. É força vital, é ‘o todo total do tal’ (tal é a letra grega usada como cruz por São Francisco de Assis e que representa o amor simples, pelos simples e pela simplicidade). Não se espera que ame uma vez todos os dias, mas que ame todas as vezes, todos os dias. Que amar seja seu jeito de andar, seu sotaque peculiar, sua forma de partir o pão e de tomar vinho com o irmão. Esse é o amor da criação, quando tudo se fez através do sêmen da palavra, como se a voz tivesse o condão de evocar a existência, ‘ex nihilo’ (do nada), a vida que espera ser chamada. Se os cientistas tivessem lido Gênesis ‘descobririam’ que o caminho para a criação da vida não está na cadeia do DNA, mas nas estruturas das PCA (palavras cheias de amor). Nunca vimos nada realmente novo surgir na terra da Terra que não fosse criado por palavras cheias de amor, e faz muito tempo que é assim.
Contudo, mais do que tudo do que se disse até agora, é necessário que esta pessoa nos ame primeiro, nos ame antes de ser amada, nos ame há muito, mesmo antes de nossa chegada. Procura-se uma pessoa que desde toda a eternidade anda a procura de uma pessoa para amar. Alguém que não tem o capricho dos poetas, que só vêem razão no amor correspondido. Que coisa mais linda há do que o amor que espera, e que enquanto espera se dá, sem nada esperar daqueles a quem tudo dá? É preciso que essa pessoa nos ame primeiro, porque nunca saberíamos amar se amados não fôssemos antes. Porque o amor que se procura é mimetismo do amor divino, é encarnação da graça criadora, é imanência da força redentora e transcendência da fé geradora.
Mas, já que se procura, importa perguntar onde se procurar um amor assim. Recomendamos que se procure em manjedouras, em festas de casamento, na beira do mar e nas estradas empoeiradas dos andantes. Não esqueçam de vasculhar os tribunais, mas nestes, fitem o banco dos réus. É possível encontrá-lo em cadeias, com algemas nas mãos e sangue a tingir seu corpo. Não deixem de olhar para as cruzes erguidas nas estradas, as mesmas estradas nas quais muito se amou. Olhem com atenção os túmulos, mas os vazios. Se, malgrado todo esforço, não encontrarem a pessoa que se procura para amar, vão ao lugar que com certeza a encontrarão, procurem em seus corações, onde aguarda como guarda que não dorme enquanto não quiserem amar.
Com carinho,
Martorelli Dantas
martorelli@martorelli.org
Procura-se uma pessoa para amar. Deve gostar do mar, uma vez que estamos em Boa Viagem. Deve sentir prazer em abraçar crianças, sobretudo aquelas que não são suas. Deve gostar de andar, de andar muito, de cidade pra cidade, de engenho pra engenho, e fazê-lo com um sorriso no olhar, para que as gentes do caminho não se sintam avaliadas com a sua chegada. Pelo contrário, que os seus passos tragam para o mais simples camponês e para o mais nobre senhor de terras a certeza de que somos todos iguais diante do Criador e de que há dentro de nós esta carência essencial, que é a necessidade de amar e corresponder em amor. Deve gostar de olhar passarinhos e deve querê-los livres, porque querer ver sempre o mesmo passarinho na sua varanda e para isso ali confiná-lo, é ter gosto pelo canto do desconsolo e não pelo louvor da saudação que só os livres sabem dar (“junto aos rios de Babilônia nos sentamos e choramos. Os que nos mantinham cativos nos pediam canções. Como cantaremos os louvores de Israel em terra estranha?” Salmo 137).
Não há necessidade de que seja bonita como as atrizes de Hollywood, nem tem que ter as formas bem definidas dos ‘candidatos a louco’ do Big Brother. Não estamos à procura deste tipo de beleza que passa com a pressa que tem a nuvem e o apogeu da flor. Isso não significa que tal pessoa tenha a faculdade de ser feia. Não há nada mais insuportável do que a feiúra. Feia é toda pessoa que não sabe sorrir ou que o faz de modo plástico e hipócrita. Feia é aquela que não tem paz no coração, cujos pensamentos e sentimentos são sempre um campo de batalha. Que olha pro irmão e não vê nele uma imperdível oportunidade de crescer em amor e compreensão. A feiúra não se disfarça pelo poder da maquiagem, já que quando não se manifesta na face, torna-se inolvidável no toque, particularmente naquele que se faz com as palavras. Desde criança aprendemos que não se deve dizer ‘nome-feio’, o que não nos ensinaram é que todo nome é feio na boca de quem o é.
É indispensável que esta pessoa queira amar todos os dias e não apenas nas noites de lua-cheia. Porque o verdadeiro amor não procura ocasião, não se mantém em potência, deixando de se manifestar por pura pretensão de discrição. O amor que se procura é torrente, é avalanche que se derrama sobre todos, indistintamente. É força vital, é ‘o todo total do tal’ (tal é a letra grega usada como cruz por São Francisco de Assis e que representa o amor simples, pelos simples e pela simplicidade). Não se espera que ame uma vez todos os dias, mas que ame todas as vezes, todos os dias. Que amar seja seu jeito de andar, seu sotaque peculiar, sua forma de partir o pão e de tomar vinho com o irmão. Esse é o amor da criação, quando tudo se fez através do sêmen da palavra, como se a voz tivesse o condão de evocar a existência, ‘ex nihilo’ (do nada), a vida que espera ser chamada. Se os cientistas tivessem lido Gênesis ‘descobririam’ que o caminho para a criação da vida não está na cadeia do DNA, mas nas estruturas das PCA (palavras cheias de amor). Nunca vimos nada realmente novo surgir na terra da Terra que não fosse criado por palavras cheias de amor, e faz muito tempo que é assim.
Contudo, mais do que tudo do que se disse até agora, é necessário que esta pessoa nos ame primeiro, nos ame antes de ser amada, nos ame há muito, mesmo antes de nossa chegada. Procura-se uma pessoa que desde toda a eternidade anda a procura de uma pessoa para amar. Alguém que não tem o capricho dos poetas, que só vêem razão no amor correspondido. Que coisa mais linda há do que o amor que espera, e que enquanto espera se dá, sem nada esperar daqueles a quem tudo dá? É preciso que essa pessoa nos ame primeiro, porque nunca saberíamos amar se amados não fôssemos antes. Porque o amor que se procura é mimetismo do amor divino, é encarnação da graça criadora, é imanência da força redentora e transcendência da fé geradora.
Mas, já que se procura, importa perguntar onde se procurar um amor assim. Recomendamos que se procure em manjedouras, em festas de casamento, na beira do mar e nas estradas empoeiradas dos andantes. Não esqueçam de vasculhar os tribunais, mas nestes, fitem o banco dos réus. É possível encontrá-lo em cadeias, com algemas nas mãos e sangue a tingir seu corpo. Não deixem de olhar para as cruzes erguidas nas estradas, as mesmas estradas nas quais muito se amou. Olhem com atenção os túmulos, mas os vazios. Se, malgrado todo esforço, não encontrarem a pessoa que se procura para amar, vão ao lugar que com certeza a encontrarão, procurem em seus corações, onde aguarda como guarda que não dorme enquanto não quiserem amar.
Com carinho,
Martorelli Dantas
martorelli@martorelli.org
6 comentários:
Muitooooooo...... Bommmmm....
É maravilhoso saber que existe pessoas como você e com este sentimento, pois pensava EU ser a única. Os caminhos da vida nos levam a infinitos lugares, mas sempre há um único caminho que se (re)encontra no meio de tantos caminho, e quem sabe ...
A sensibilidade de um ser, que se descobre a cada instante e que merece ser feliz!
Amo o jeito com que fala da vida, com a sensibilidade de ver nas coisas simples a real beleza de tudo. " Se todos fossem iguais a você, que maravilha viver..."
DEUS te abençoe ....
Muito Linda essa mensagem, realmente o nosso mundo melhoraria muito se as pessaos descobrissem o verdadeiro sentido e a enorme grandeza da palavra AMOR.
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