sábado, junho 11, 2011

Samuel, mano amado,

Paz e Bem!

Não quis zombar de nenhuma das pessoas que concordaram com seu post, só quis lhe aconselhar a nunca posicionar-se para receber aplausos, a não assumir posturas pela conveniência de saber que isto será apreciado por um grupo de pessoas com as quais você esteja histórica e momentaneamente identificado. Só você pode saber se esta é ou não uma tentação que lhe assalta. A mim visita a cada manhã. Nem mesmo estou dizendo que é este o caso do texto que agora debatemos. Antes, disse que tenho convicção que o seu entendimento exarado é a manifestação daquilo que crê seu coração.

Só ingressei neste debate porque você me pediu que comentasse o seu texto e foi isso que fiz. Tentei, em minha primeira intervenção, ser claro e cortes, mas posso não ter conseguido. É sempre difícil fazê-lo em polêmicas, e mesmo sendo, é difícil ser compreendido deste modo pelo contendor, fruto do próprio espírito em que o confronto de idéias acontece. Pois, de pronto, peço perdão a quem de qualquer modo e por qualquer palavra tenha ofendido. Até porque, Dom Quixote é o meu herói preferido, com o qual me identifico muito – o cavaleiro da triste figura.

Você diz que me falta “uma maior base apologética”. Tem toda razão! Faz tempo que desisti de todo e qualquer tipo de apologética. Não defendo a minha fé, dou testemunho dela. Não sou um tipo de templário, um guerreiro sagrado, em defesa de Deus e de sua igreja. Deus não precisa de baluartes e a Igreja encontra como maior ameaça à sua saúde e integridade as forças que militam dentro dela. E eu não tenho ânimo para lutar com meus irmãos, pelo contrário, quero andar com eles, estejam eles, a meu juízo, certos ou errados, posto que as minhas convicções são apenas as minha convicção, não fui constituído pelo Senhor como controler da ortodoxia mundial, mas há quem tenha ânimo pra isso.

Mais uma vez lhe dou razão quando diz que não fazemos exegese do mesmo jeito. Minha exegese é tal que leva em consideração o texto em seu contexto histórico e supõe que ele diz o que pretendeu o seu autor e entenderam os leitores originais. Quando pego o Salmo 2 em minhas mãos (e o fiz para compartilhá-lo neste momento), vejo um mundo dividido entre judeus e gentios – “Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs?” (v.1) – o que denota uma cosmovisão judaica, na qual não nos vemos inseridos. Hoje não temos uma nação de Deus em contraposição aos povos ímpios, o que temos é o povo de Deus espalhado no meio de todos os povos.

Neste texto o rei tem endereço certo, está constituído sobre o “santo monte Sião” (v.6), uma clara referência a cidade de Jerusalém, então capital de Israel. O salmo todo é uma proclamação da superioridade da nação de Israel sobre os outros povos, do rei dos filhos de Abraão sobre os demais – “os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o Senhor e contra o seu ungido” (v.2). Como eu disse, nota-se em seu texto esta melancolia em relação ao antigo estado de Israel. O desafio da igreja de nossos dias não é reabilitar a glória dos judeus, como querem alguns dispensacionalistas, mas aprendermos a sermos seguidores de Jesus, como Paulo entre os romanos.

É justamente a figura de Paulo que pode muito nos ajudar a entender qual deve ser a nossa postura em relação à questão do homossexualismo em nossos dias. Ele foi apóstolo num mundo greco-romano, em que a prática do homossexualismo era absolutamente comum e corriqueira, mas não o vemos fazendo denúncias contra as autoridades romanas que praticavam a pederastia, ou contra os gregos e seus efêbos. Ele condena o homossexualismo como pecado, e diz que quem se converte deve abandonar tal conduta. Mas ele, nas muitas defesas que apresentou perante autoridades romanas, jamais tomou um tom acusatorial, antes deu testemunho de sua fé e do que Deus fizera por ele. O discurso de Paulo era de exortação e ensino para a igreja. Não há uma carta ao Senado Romano, mas aos irmãos de Roma.

Fiquei pensando muito da figura de Darth Vader com uma Bíblia na mão, com a qual você ilustrou o seu post. Até desconfio quem é que está por baixo da fantasia preta ;-), mas ela pode ser muito perigosa, mais do que uma leitura rápida possa denunciar. Hoje a mais ameaçadora força a comprometer a paz mundial é o fundamentalismo religioso, tanto islâmico quanto cristão. A resposta que tem sido dada à brutalidade oriunda de grupos mulçumanos é a contrapartida, na mesma medida, de grupos protestantes. Mal por mal. A própria referência a Star Wars pode deixar escapar um maniqueísmo, que divide o mundo entre o lado negro da Força e o lado bom da Força. Eu vivo num mundo em que há muitas forças, mas a Força não está dividida.

Com carinho e devendo uma pizza,

Martorelli Dantas

P.S.: um dia eu subscrevi a Confissão de Fé de Westminster como a correta interpretação das Escrituras, depois, pensei melhor, e resolvi interpretar as Escrituras eu mesmo.

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