Reflexões sobre as manifestações populares
Este é um movimento cuja iniciativa foi de jovens e de estudantes, que,
paulatinamente, foi alcançando e incluindo outros segmentos da
sociedade. É a expressão da indignação de um povo espoliado e tratado
como meio para atingir objetivos mesquinhos. São políticos e empresários
autocentrados, desprovidos de qualquer sentimento benéfico em favor dos
mais, daqueles que sofrem na miséria, e
de outros tantos que são mantidos numa condição de oprimidos, para
sustentar este desequilíbrio necessário para a preservação da
perversidade capitalista.
Sim, precisamos discernir a questão
essencial que subjaz à revolta popular. Por que a primeira alternativa
dos governantes para manter o preço das passagens, é cortar
investimentos ou aumentar impostos? Por que não se cogita reduzir a
margem de lucro dos empresários que exploram o mercado do transporte
público? Por que o investimento dos empresários é sempre o mínimo para
fazer os veículos rodares? Por que os gestores públicos estabelecem
metas para a melhoria dos serviços prestados, as quais não são
cumpridas, nem resulta este fato em sanções?
A resposta é
simples, há um pacto, um compromisso entre os mandatários e aqueles que
viabilizaram a sua eleição, financiando suas campanhas. E como há sempre
uma nova eleição por vir, e a necessidade de mais dinheiro para atingir
postos mais vantajosos, o vício se perpetua. Não há quem aponte o
financiamento público das campanhas como a senda para a quebra deste
sistema. Creio que não. Entendo que enquanto ser político for
financeiramente vantajoso, este financiamento será só mais um modo de
desviar recursos do interesse público para bancar o mesmo modelo de
descalabros que está aí.
Quero levantar a bandeira de uma
revolução socialista. Revolução sim, mas democraticamente promovida. Os
cientistas políticos de plantão devem estar achando uma loucura juntar
estas duas expressões em uma mesma frase: revolução, democraticamente
promovida. Na verdade, o que não for assim é golpe de estado e só
produzirá mais insegurança jurídica. O que precisamos é canalizar toda
esta energia que tem levado milhares e milhares de pessoas às praças,
para construir um conjunto de pautas sociais a serem levadas a efeito
pelos eleitos em 2014, nos moldes pregados por Plínio Sampaio, durante a
campanha política de 2010.
Bolsa Hipocrisia
O que grande parcela da população ainda não se deu conta, é que
programas assistencialistas como o Bolsa Família e que tais, nos
deixaram em uma encurralada política. Nenhum candidato à presidência da
república que anunciar o fim do programa será eleito e o que for eleito
vai prometer não só a manutenção do mesmo como a expansão de políticas
públicas que seriam para a redistribuição de renda.
Ocorre, que a lógica do modelo capitalista de organização econômica é
que o trabalhador deve ser remunerado pelo seu trabalho, não por sua
pobreza. A lógica socialista de transformação é o de evitar a mais-valia
e aproximar o trabalhador dos meios de produção, para que através do
seu trabalho ele produza e possa alcançar os meios necessários para a
sua desvinculação do sistema de opressão.
Em outras palavras, o
que temos hoje instalado no Brasil é um capitalismo que usa maquiagens
socialistas, logo, extremamente hipócrita, uma vez que não promove a
emancipação (porque não dizer libertação) da classe operária e oprimida.
Pior, faz tudo isso oferecendo falsas esperanças de acensão social para
as classes inferiores, porque lhes permite comprar a TV Led e a
torradeira, mas não lhes dá saúde, educação e segurança.
Acho
os programas de Bolsa* uma falácia utilizada por quem não quer ou não
sabe promover as mudanças que o país precisa. O que precisamos é de
reforma agrária de verdade, o que precisamos é de uma revolução
inclusiva no ensino fundamental (não apenas colocando mais crianças na
escola, mas lhes oferecendo ensino integral e de qualidade), o que
precisamos é que os nossos jovens sonhem em ser professores e não
funcionários públicos de altos salários.
É tanta coisa que
precisamos, mas o início do caminho é o fim do cinismo e da hipocrisia, é
a implantação pacífica e profunda de um socialismo animado pela
misericórdia e pela compreensão que somos todos parte de um mesmo
organismo, vinculados a este planeta e a tudo que nele vive e aguarda
redenção.
IMPORTAR MÉDICOS... DESCE UMA CUBA-LIBRE
Tem umas coisas que são difíceis de entender e explicar. A presidente
disse que nós vamos "importar" médicos, porque os que há no Brasil são
insuficientes para atender à necessidade da população. Estes médicos
virão, principalmente, de Cuba, sem falar a nossa língua e sem entender
as peculiaridades da vida no Brasil
É verdade, não temos médicos suficientes.
Mas temos milhões de jovens desejosos de fazer o curso de medicina, boa
parte deles em absolutas condições de fazê-lo, mas a concorrência é
desumana e frustrante. Em nosso país não é a vocação que define a
profissão que vai se seguir, mas as condições financeiras dos candidatos
ou o fato de serem superdotados.
Se novas faculdades de
medicina tivessem sido abertas no início do governo PT, já estaríamos
formando a segunda "fornada" de profissionais. Se houvesse um programa
de estímulo a ida deles para as cidades do interior, em grande medida, o
atual estado de coisas estaria resolvido. A decisão de nossa presidente
é a assunção da falta de planejamento e visão de longo prazo das forças
que representa.
O governo, e a esquerda em geral, sempre que
podem elogiam a educação em Cuba. Esta esquerda assumiu o poder com a
eleição de FHC em 1994, de lá pra cá se passaram quase 20 anos e nós, de
eleição em eleição, escolhemos candidatos sempre mais à esquerda.
Contudo, nenhum deles manifestou o mínimo interesse em promover aqui a
revolução que Fidel e Che fizeram lá.
Qual a conclusão a que
chegamos? Precisamos de um governo de direita? De modo nenhum. Nada
poderia ser mais maléfico e anacrônico para a alma brasileira. O que me
parece evidente é que estes governos, ditos de esquerda, eram de fato e
de verdade, forças vendidas aos "dominadores deste mundo tenebroso", às
mesmas forças que legitimaram e sustentaram o governo militar.
Ou enxergamos isso agora, ou corremos o risco de adotar medidas que
serão um desestímulo ao esforço daqueles jovens, que passam três ou
quatro anos tentando vestibulares por todo o país, movidos pelo sonho de
serem médicos. A solução da "importação" é mais rápida e mais prática
do que abrir novas universidades, mas é só outro exemplo da política
desastrada de maquiar a incompetência administrativa com "bolsas de
ilusão".