domingo, junho 23, 2013

Reflexões sobre as manifestações populares


Este é um movimento cuja iniciativa foi de jovens e de estudantes, que, paulatinamente, foi alcançando e incluindo outros segmentos da sociedade. É a expressão da indignação de um povo espoliado e tratado como meio para atingir objetivos mesquinhos. São políticos e empresários autocentrados, desprovidos de qualquer sentimento benéfico em favor dos mais, daqueles que sofrem na miséria, e de outros tantos que são mantidos numa condição de oprimidos, para sustentar este desequilíbrio necessário para a preservação da perversidade capitalista.

Sim, precisamos discernir a questão essencial que subjaz à revolta popular. Por que a primeira alternativa dos governantes para manter o preço das passagens, é cortar investimentos ou aumentar impostos? Por que não se cogita reduzir a margem de lucro dos empresários que exploram o mercado do transporte público? Por que o investimento dos empresários é sempre o mínimo para fazer os veículos rodares? Por que os gestores públicos estabelecem metas para a melhoria dos serviços prestados, as quais não são cumpridas, nem resulta este fato em sanções?

A resposta é simples, há um pacto, um compromisso entre os mandatários e aqueles que viabilizaram a sua eleição, financiando suas campanhas. E como há sempre uma nova eleição por vir, e a necessidade de mais dinheiro para atingir postos mais vantajosos, o vício se perpetua. Não há quem aponte o financiamento público das campanhas como a senda para a quebra deste sistema. Creio que não. Entendo que enquanto ser político for financeiramente vantajoso, este financiamento será só mais um modo de desviar recursos do interesse público para bancar o mesmo modelo de descalabros que está aí.

Quero levantar a bandeira de uma revolução socialista. Revolução sim, mas democraticamente promovida. Os cientistas políticos de plantão devem estar achando uma loucura juntar estas duas expressões em uma mesma frase: revolução, democraticamente promovida. Na verdade, o que não for assim é golpe de estado e só produzirá mais insegurança jurídica. O que precisamos é canalizar toda esta energia que tem levado milhares e milhares de pessoas às praças, para construir um conjunto de pautas sociais a serem levadas a efeito pelos eleitos em 2014, nos moldes pregados por Plínio Sampaio, durante a campanha política de 2010.

Bolsa Hipocrisia


O que grande parcela da população ainda não se deu conta, é que programas assistencialistas como o Bolsa Família e que tais, nos deixaram em uma encurralada política. Nenhum candidato à presidência da república que anunciar o fim do programa será eleito e o que for eleito vai prometer não só a manutenção do mesmo como a expansão de políticas públicas que seriam para a redistribuição de renda.

Ocorre, que a lógica do modelo capitalista de organização econômica é que o trabalhador deve ser remunerado pelo seu trabalho, não por sua pobreza. A lógica socialista de transformação é o de evitar a mais-valia e aproximar o trabalhador dos meios de produção, para que através do seu trabalho ele produza e possa alcançar os meios necessários para a sua desvinculação do sistema de opressão.

Em outras palavras, o que temos hoje instalado no Brasil é um capitalismo que usa maquiagens socialistas, logo, extremamente hipócrita, uma vez que não promove a emancipação (porque não dizer libertação) da classe operária e oprimida. Pior, faz tudo isso oferecendo falsas esperanças de acensão social para as classes inferiores, porque lhes permite comprar a TV Led e a torradeira, mas não lhes dá saúde, educação e segurança.

Acho os programas de Bolsa* uma falácia utilizada por quem não quer ou não sabe promover as mudanças que o país precisa. O que precisamos é de reforma agrária de verdade, o que precisamos é de uma revolução inclusiva no ensino fundamental (não apenas colocando mais crianças na escola, mas lhes oferecendo ensino integral e de qualidade), o que precisamos é que os nossos jovens sonhem em ser professores e não funcionários públicos de altos salários.

É tanta coisa que precisamos, mas o início do caminho é o fim do cinismo e da hipocrisia, é a implantação pacífica e profunda de um socialismo animado pela misericórdia e pela compreensão que somos todos parte de um mesmo organismo, vinculados a este planeta e a tudo que nele vive e aguarda redenção.
IMPORTAR MÉDICOS... DESCE UMA CUBA-LIBRE

Tem umas coisas que são difíceis de entender e explicar. A presidente disse que nós vamos "importar" médicos, porque os que há no Brasil são insuficientes para atender à necessidade da população. Estes médicos virão, principalmente, de Cuba, sem falar a nossa língua e sem entender as peculiaridades da vida no Brasil

É verdade, não temos médicos suficientes. Mas temos milhões de jovens desejosos de fazer o curso de medicina, boa parte deles em absolutas condições de fazê-lo, mas a concorrência é desumana e frustrante. Em nosso país não é a vocação que define a profissão que vai se seguir, mas as condições financeiras dos candidatos ou o fato de serem superdotados.

Se novas faculdades de medicina tivessem sido abertas no início do governo PT, já estaríamos formando a segunda "fornada" de profissionais. Se houvesse um programa de estímulo a ida deles para as cidades do interior, em grande medida, o atual estado de coisas estaria resolvido. A decisão de nossa presidente é a assunção da falta de planejamento e visão de longo prazo das forças que representa.

O governo, e a esquerda em geral, sempre que podem elogiam a educação em Cuba. Esta esquerda assumiu o poder com a eleição de FHC em 1994, de lá pra cá se passaram quase 20 anos e nós, de eleição em eleição, escolhemos candidatos sempre mais à esquerda. Contudo, nenhum deles manifestou o mínimo interesse em promover aqui a revolução que Fidel e Che fizeram lá.

Qual a conclusão a que chegamos? Precisamos de um governo de direita? De modo nenhum. Nada poderia ser mais maléfico e anacrônico para a alma brasileira. O que me parece evidente é que estes governos, ditos de esquerda, eram de fato e de verdade, forças vendidas aos "dominadores deste mundo tenebroso", às mesmas forças que legitimaram e sustentaram o governo militar.

Ou enxergamos isso agora, ou corremos o risco de adotar medidas que serão um desestímulo ao esforço daqueles jovens, que passam três ou quatro anos tentando vestibulares por todo o país, movidos pelo sonho de serem médicos. A solução da "importação" é mais rápida e mais prática do que abrir novas universidades, mas é só outro exemplo da política desastrada de maquiar a incompetência administrativa com "bolsas de ilusão".