domingo, dezembro 23, 2007

Já chegou o Natal?

Você já ouviu inúmeras pessoas dizerem que o Natal já está em cima; que está próximo ou que já chegou. Talvez você mesmo esteja achando que faltam apenas dois dias para o Natal chegar, mas o fato é que ainda falta muito. Não para que estejamos vivendo o dia 25 de dezembro, mas para que vivamos de fato um tempo de Natal. Não me refiro às lâmpadas, árvores enfeitadas e gordos velhinhos alvirrubros. Falo de um tempo de fraternidade, de amor sincero e respeito pelas diferenças das pessoas. Tudo isso eu vejo encarnando junto com a Criança de Belém.

Quando o anjo Gabriel conversou com Maria lhe disse que o nome da criança que iria nascer deveria ser Jesus. Em sonho, José é advertido a chamar o bebê que estava para nascer também com o nome Jesus. O nome Jesus é a forma latinizada da expressão hebraica Yehoshua, que significa literalmente “Deus é salvador”. A salvação da qual nos fala este nome não tem apenas o significado de ser ele o “cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”, como disse sobre ele João Batista. Em outros termos, Jesus não nos salvou apenas morrendo por nós e tomando sobre si os nossos pecados. Isto de fato aconteceu e devemos render graças ao Pai por enviar em nosso socorro seu Filho unigênito. Eu sou imensamente grato por este gesto supremo e eterno de amor.

Mas o que me encanta mesmo no fato de o Verbo Eterno de Deus ter vindo ao mundo e habitado entre nós é que ele nos ensinou que é possível viver de modo radical o amor e o respeito por todas as criaturas existentes. Jesus me salvou do cinismo, do desencanto para com a vida e com o próximo. Eu já vivi momentos em que me senti decepcionado com a humanidade, como se não valesse apena coexistir ao lado dos outros seres humanos. Nestes momentos, reconheço, estive cego para a minha própria indignidade e imperfeições, de que eu mesmo sou um ser com quem é difícil conviver, mas fui tão tomado pela frustração e tristeza que quase me desanimei.

Quando isso aconteceu foi importante olhar para Jesus não como um rei assentado em majestoso trono nos céus, ou um juiz impávido em sua cátedra de justiça e Lei. Foi indispensável e profundamente salvífico ver Jesus como um peregrino, exatamente o que eu sou, que convidou homens e mulheres para caminharem ao seu lado e que manteve com estas pessoas um relacionamento que lhe provocou tristeza, dor e descontentamento. Ele me mostrou como se deve agir em momentos assim. Foi vital ouvi-lo dizer: “Pai, perdoa-lhes este pecado, eles não sabem o que estão fazendo...”. Sei que Jesus continua dizendo tais palavras ao Pai olhando para mim e para a minha vida, mas, sobretudo, sei também que é isso que ele quer ouvir dos meus lábios quando os meus irmãos agem contra mim.

O problema é que em mim ainda falta muito para ser Natal, noutras palavras, ainda demora para que o amor de Deus encarne em mim. Para que eu tenha a experiência plena da divindade em mim. Hoje eu ouvi um irmão dizer algo lindo, de modo absolutamente despretensioso. Ele disse que Deus nos deu a possibilidade de termos um pouco da sua própria natureza vivendo em nós. E explicou: se Deus é amor, todos aqueles que amam manifestam o Deus que habita dentro deles. Isto é verdade! João nos disse isso em sua primeira epístola de modo expedito e claro: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus, e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” 1 Jo. 4:7 e 8.

Dizer que é Natal é dizer que o amor se encarnou, que é possível sentir o cheiro do amor, andar com ele, tomá-lo em nossos braços. Mas onde está o amor? Nos templos ou nos palácios? Nas sinagogas ou nas catedrais? Nos parlamentos ou nos tribunais? Eu já estive em todos estes lugares, me assentei com os poderosos que ali exercem seus ofícios e posso lhes dizer: ali não há amor. No máximo encontraremos um interesse utilitarista pela vida uns dos outros. Uma espécie de redução da vida alheia a mecanismos de autopromoção e exploração. Onde há egoísmo não pode haver o verdadeiro amor. Parece que estamos na mesma enrascada dos magos vindos do Oriente. Queremos ver Aquele que é amor entre nós, mas não sabemos onde achá-lo. Os céus proclamam que ele nasceu, mas onde estará escondido? Inutilmente vasculhamos as casas dos poderosos deste mundo, como o palácio de Herodes, mas o amor não está lá.

Tive uma idéia, quem sabe o achemos... Que tal procurar nos quintais, nas estrebarias, nos currais da existência. Não foi somente lá que José encontrou lugar onde acolher a sua esposa e seu filho, prestes a nascer? Talvez seja, ainda hoje, somente lá que encontremos o amor encarnado entre os homens. Não podemos comemorar o Natal antes que ele chegue. Não podemos dizer “Feliz Natal!”, se nem sabemos se Natal será. Creio que mais do que comemorar o Natal, os homens de nossos dias deveriam aceitar o desafio de “Fazer Natal!”, ou seja, vamos deixar encarnar em nós a essência de Deus, este amor absurdo e descomensurado por todas as criaturas, particularmente, por todos os homens e mulheres. Vamos chamar a todos de “meu irmão!”, “minha irmã!” e tratá-los com o amor, com o carinho e com o respeito que tal nomenclatura designa, assim, quem sabe hoje, será Natal.

Fazer Natal!

Com carinho,

Martorelli Dantas
martorelli@martorelli.org
- (81) 8785.1830 -

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