quinta-feira, janeiro 10, 2008

Ano Novo: Ciclo Sem Repetição

Deus criou todas as coisas em ciclos. Os dias, as semanas, os meses, os anos... os tempos. Os homens, os animais, as plantas, os minerais... os seres. Tudo obedece a processos que podem ser resumidos em cinco fases: nascimento, crescimento, reprodução, envelhecimento e morte. Mas a morte, imersa na ciclicidade de todas as coisas, deve ser vista apenas como a anunciação de que se nos está demandando um novo recomeço. Não há desespero, que por definição é a ausência de esperança, mas, pelo contrário, somos consolados pela certeza de que ao morrermos invadiremos uma nova e surpreendente dimensão: a eternidade – mundo desconhecido onde uma nova ordem se instala, que Jesus gostava de comparar com um baile, onde Deus e o anfitrião e para o qual todos os seres humanos são convidados.

Felizmente, o recomeço para o qual somos chamados não é como no mito grego de Sísifo, segundo o qual este foi condenado por Zeus a carregar uma pedra até o cume de um monte, mas que chegando perto de cumprir o seu serviço, a vê sempre cair e tem que recomeçar o maçante e infrutífero trabalho. O que recomeça em nós não, necessariamente, repete aquilo já vivido. Não fomos condenados à monotonia (um só tom), muito menos, à improdutividade. O que está em tudo o que Deus fez neste planeta é a declaração de que a vida quer dá vida, quer continuamente se engravidar de novas e mais ricas possibilidades. Que tudo é semente: força contida, guardada em potência que anseia por explodir em mais vida e vida maior.

A questão que pode se levantar neste instante é esta: como esperar que o ano de 2008 não seja em nossas vidas uma experiência ‘sísifica’, ou seja, de repetição inócua? Em primeiro lugar, importa que lembremos que um ciclo não é a repetição de uma experiência. Lavoisier disse que neste mundo nada se cria, tudo se transforma. Eu diria, com Paulinho Moska, que em nossas vidas nada se repete, ‘tudo se compõe e se decompõe’, e ao fazê-lo se transforma em novidade. Se há uma constante na existência é inexorabilidade do novo. Assim, deveríamos ver estes ciclos como infinitas esperais que nos levam adiante, não necessariamente para um tempo melhor ou pior, mas para um tempo novo. Contudo, queremos que seja melhor, oramos para que seja maior, desejamos que seja mais rico, doce, amável... moreno.

Em segundo lugar, vale dizer que tivemos a oportunidade de aprender. Os sofrimentos que enfrentamos, as noites que experimentamos, as provas pelas quais passamos, tudo isso nos ensinou, se imprimiu em nós, forjou em nossa consciência marcas que podem ser usadas para que cresçamos. Em sua misericórdia, Deus, que deu o envelhecimento como algo compulsório aos que sobrevivem, permitiu que o crescimento fosse opcional. Podemos escolher aprender ou não, aplicar na prática cotidiana as lições que nos foram dadas.

Aprovação significa que não é mais necessário passar por uma dada prova. Já a palavra reprovação indica que é preciso passar pela mesma prova, posto que não aprendemos o que deveríamos ter aprendido. Há pessoas que são como aquelas mulherinhas das quais nos fala São Paulo, “que estudam sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade” (II Tm. 3:7). Forçamos a barra para que os nossos filhos adolescentes saibam solucionar equações logarítmicas que serão inúteis para 99% deles no dia seguinte ao vestibular e não aprendemos ainda, por exemplo, que odiar alguém é uma forma de vingança tão eficaz como tomar um veneno na esperança de que este outro morra.

Que conselhos práticos eu poderia lhe dar para ajudá-lo a construir um ano novo melhor? 1. Não espere ter um ano novo melhor, esforce-se para ser melhor no ano novo; 2. Pergunte com seu coração ao Senhor o que queriam ensinar as lágrimas que você chorou em 2007, bem como aquelas que você viu rolar (lágrimas são sabedoria liquefeita, bebê-las e estudá-las podem nos tornar mais fortes e pacientes); 3. Perdoe as pessoas que lhe fizeram mal, ainda que seja por preguiça de carregar mágoas ou pelo fato de que é absolutamente inútil cobrar uma conta de um devedor que, mesmo querendo, não pode pagar o que lhe deve. A vingança não satisfaz o débito, apenas cria um novo devedor.

Por fim, quero desejar que estejamos mais perto em 2008. Somos uma comunidade pequena, umas poucas dezenas de pessoas que se reúnem uma ou duas vezes por semana ao redor do Evangelho, mas não precisamos ser distantes. Quero que você conte comigo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na pobreza e na riqueza. Que o meu amor por você seja posto a prova todos os dias e que a minha mais eficaz prova de amor seja seu gosto de ‘estou-aqui’, talvez em silencia, quem sabe sem respostas ou idéia do que fazer, mas aqui.

Com todo meu carinho, Paz e Bem!

Martorelli Dantas, seu irmão
martorelli@martorelli.org

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