quarta-feira, março 12, 2008

Ramos Secos

Hoje é Domingo de Ramos. Recordamos-nos da entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. Este acontecimento daria início à sua paixão, seu sofrimento final, que nos conduziu à salvação e à comunhão absoluta com o Pai. O dia de hoje é bastante eloqüente por pelo menos três motivos: lembra-nos que os homens souberam ver em Jesus sua realeza e majestade; que com alegria o Senhor acolheu os gritos de louvor e os gestos de celebração de seu reinado e que tão depressa o povo pode esquecer dos “hosanas” que cantaram e foram capazes, as mesmas bocas, de se encherem de um “crucifica-o! crucifica-o!”. Os ramos logo secaram! Sempre secam com rapidez porque para que possam ser usados para os acenos precisam ser desarraigados do tronco e das raízes. Ramos ao ar é certeza de breve desvanecimento.

Esta pode ser uma lição triste, mas não sem valor. Em momento nenhum Jesus depositou confiança nas palavras dos homens. Não o vemos nem decepcionado nem frustrado com a mudança tão brusca e radical que se verificou em menos de uma semana. Ele conhecia a natureza dos homens. Sabia da volubilidade das pessoas e que confiar em seus aplausos ou temer suas vaias é comportamento de quem não sabe a razão pela qual vive e exerce seu papel neste mundo. O grande desafio da sabedoria e da humildade que buscamos é ter uma vida guiada por valores e não pela contínua busca de aprovação popular. Foi Nietzsche quem disse que “vale a pena trocar o que não se pode reter por aquilo que não se pode perder”. Querendo com isso ensinar que a nossa identidade é algo que não podemos negociar e a aprovação popular é algo que não podemos manter indeterminadamente em nosso favor.

Contudo, não são poucas as pessoas que encontro em minha caminhada cujas vidas se pautam pela expectativa de faustos e festividades em sua honra. Não estou dizendo que ser celebrado e festejado não seja bom. É! O que estou afirmando é que tais acontecimentos não podem dirigir os nossos passos. O Mestre estava indo para Jerusalém para ser crucificado e morto em nosso favor. Em suma, buscava realizar a vontade do Pai. No meio desse caminho ele foi assaltado pelos gritos de louvor e de exaltação do povo, o que alegremente acolheu, mas não foi por este motivo ou à procura disso que encaminhou seus passos para a “cidade santa”.

Não há um único geste em Jesus que seja feito à procura de prestígio ou fama. Estes vieram a despeito de todo seu esforço para manter-se oculto, no anonimato. Muitas vezes o vemos realizando milagres e pedindo às pessoas que eram agraciadas para que nada dissessem a ninguém (bem diferente do que vemos hoje acontecendo tanto na televisão como nos templos cristãos). Ele sabia que muita exibição na “mídia” só lhe traria invejas e perseguições. As pessoas que precisavam dele, estas ele as encontraria no caminho, não em grandes encontros laudatórios.
Eu ainda estou aprendendo a não me preocupar com a opinião pública. Recordo-me de um tempo em que servi a ela, como se serve a um deus. Fiz suas vontades e desejei que estivesse sempre do meu lado. Hoje eu compreendo que não deve ser esta a nossa direção. Fazer a vontade de Deus deve ser nosso Norte. Fazendo-a, diz-nos Jesus, todas as outras coisas nos serão acrescentadas. E tem sido assim em minha vida. Se as pessoas me parabenizam por esta ou aquela conquista, por este ou aquele ato, alegro-me e recebo de bom grado as congratulações, mas nenhum deles imagina que por eles ou para eles fiz o que fiz. Fui movido sempre por um senso de vocação. Se ouço críticas e reclamações a respeito desta ou daquela atitude que tomei, considero as razões apresentadas, questiono se não fui tolo ou imprudente em agir como agi. Se nada me acusa a consciência, simplesmente sigo o meu caminho, sem qualquer peso em minha alma. Nunca me esqueço que ramos secam muito rapidamente.

Mas hoje é Domingo de Ramos! Levantemos nós também os nossos ramos e saudemos a Jesus que vem para nos libertar e salvar. Ele é a nossa alegria e glória. Fonte única de certeza e de segurança. Graças a Deus, ele continua aceitando nossos cânticos e hosanas. Não se importa por sermos tão volúveis e mutáveis. Não podemos oferecer-lhe mais nada além de nossos sinceros sentimentos neste exato momento e pedir que ele nos mantenha fiéis, posto que esta não é uma qualidade dos homens. Paz e Bem!

Com contentamento e alegria,

Martorelli Dantas
martorelli@martorelli.org

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