Filosofia do Amor
Houve um tempo em que todas as ciências eram meros ramos da filosofia. Foi com o advento da mentalidade moderna, excessivamente analítica e carregada da pretensão de alcançar a verdade em ralação a todos os objetos, que, a partir do séc. XVIII (e principalmente no séc. XIX), se fez o desenlace de saberes como a sociologia, a psicologia, a antropologia e a economia da mater scientia.
Não obstante, há algo que nunca foi ciência, que os homens cultos e civilizados dos nossos dias ignoram tanto quanto desconhecem a si mesmos e às razões mais profundas pra viver e se dar. Refiro-me à filosofia do amor. Estou convencido que quanto mais nos desenvolvemos tecnologicamente, nos habilitamos a conhecer os fatos que se dão do outro lado do mundo em tempo-real e nos informamos sobre a opinião, virtudes e tragédias das celebridades, estamos nos tornando cegos e surdos em relação aos nossos sentimentos e os das pessoas que vivem ao nosso lado. É como se nos estivéssemos conectados com o “fora e longe” e, para isso, nos desligamos do “dentro e perto”. Já disseram que internet é uma ferramenta que aproxima os distantes e afasta os próximos. Este texto pretende apenas lançar as bases daquilo que chamo de “amizade com o saber amar” (filosofia do amor).
Em primeiro lugar, é preciso evocar a consciência de que nós não existimos pra trabalhar, para procriar, para conquistar terras e riquezas. A única razão para que eu e vocês estejamos aqui e agora, compondo a história da raça humana sobre a Terra, é que este mundo precisa muito de amor e Deus achou que nós poderíamos ajudar nisso. Não é por menos que vida sem amor não é vida e que só o amor tem o condão de transformar um ser humano de dentro pra fora. Foi o apóstolo Paulo quem disse que “o amor tudo suporta”. Não no sentido de que quem ama aguenta todas as coisas, mas que é o amor que a tudo sustenta e quem não tem amor está no vazio, precipita-se no abismo.
Em segundo lugar, importa que saibamos que amar não é uma garantia de que não vamos sofrer ou fazer sofrer. Pelo contrário, a palavra “paixão” tanto significa desejo quanto dor, é que também no que diz respeito às emoções, entre o “bem e o mal Deus criou um laço forte, um nó, e quem viverá um lado só?”. A filosofia do amor nos ensina a arte do perdão, ter olhos pra enxergar que o presente é mais importante e maior que o passado. Se quisermos viver das amargas lembranças do ontem, desligaremos a graça do hoje e inviabilizaremos as doçuras possíveis do amanhã. São escolhas a fazer, decisões a tomar. Perdoar não é esquecer, é abrir mão do direito de cobrar.
Presbiterianamente, em último lugar, mas não com a ilusão de esgotar a filosofia do amor, posto que este é um saber sempre em construção, quero lhes propor que importa que nos entreguemos inteiramente ao mar do amor, sem barcos nos portos a esperar, sem rotas de fuga, sem um “se não der certo...”. Quando nos damos em parte não podemos esperar viver plenamente satisfeitos. O amor não se pode aprender sem a radicalidade dos revolucionários. Foi Caymmi que lançou para o infinito a vexata quaestio: “por que de amor para entender é preciso amar, por que?”. Nas palavras de Fernando Sabino, no final vai dar certo, se não deu ainda, é porque não chegou ao final. Filosofia do amor a arte da contínua superação.
Com carinho,
Martorelli Dantas
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