Nota Homilética 1
Quem é o maior...?
Com base em Mateus 18:1 – 4
Introdução. O que dizemos denuncia no que nos interessamos, aquilo que nos interessa denuncia o que fazemos, bem como a força que nos move a agir, o que fazemos constrói ponto a ponto o que nós somos.
O gordo fala de comida... A vaidosa fala de beleza... O avaro de dinheiro... O cobiçoso de poder... O autocomiserado do que os outros fizeram com ele... Até o cínico religioso fala de práticas piedosas que tiveram o condão de fazer o que ele é. Na ordem inversa, nós somos o que fazemos, fazemos o que nos interessa e é do que nos interessa que nós falamos.
Elucidação. Perguntar quem é o maior serve para que os discípulos se posicionem em relação uns aos outros. Sabendo quem é o maior eles poderiam imitar os seus métodos, estabelecer alvos para suplantá-lo no que quer que tenha tornado este indivíduo “o maior”. Este é o assunto, o interesse e a agenda dos discípulos daqueles dias e de muitos de nós também. Queremos ser os maiores... os mais ricos, os mais belos, os mais poderosos, os mais piedosos, os mais influentes. São apenas variações sobre o mesmo tema.
Esta artimanha do espírito humano não era estranha a Jesus. Quando ele coloca no centro da questão uma criança, desconcerta, como já fizera tantas vezes e continua a fazer, seus discípulos. Uma criança nos dias de Jesus e na cultura em que ele usou esta figura não é o mesmo que uma criança em nossos dias e aqui onde habitamos. Aquela era uma sociedade baseada na autoridade e na experiência dos anciãos. Diferentemente da nossa, que praticamente idolatra a juventude e o frescor da pele, aquela sociedade estava alicerçada na sabedoria das cãs (dos cabelos brancos).
Desenvolvimento. Quando Jesus lhes disse que eles precisariam se converter em crianças estava propondo um caminho de retorno, uma regressão a um estado de desimportância social e econômica que representava um desafio existencial que não podemos compreender perfeitamente hoje, em que a ideia de nos tornarmos crianças de novo até, de algum modo, nos fascina. Ser criança, naquele contexto, é:
1. assumir uma posição em que se sabe não ser nem maior nem melhor do que ninguém;
2. que se aceita isto e se dispõe a existir em submissão e alegria;
3. na mais completa e absoluta dependência dos seus.
Conclusão. Esta é uma conversão sobre a qual as igrejas, em geral, não falam hoje. Elas, pelo contrário, nos estimulam a querer também sermos os maiores. Dizem que Deus nos fez para sermos cabeça e não calda, que ter é sinal da benção do Senhor em nossas vidas. Que renúncia é sinal de fraqueza ou de pecado. Mas a verdade continua a mesma dos dia do Salvador, a verdadeira libertação está em aceitar que não sabemos, que não podemos, que não conseguiremos se Deus não for por nós. Tudo isso é coisa de criança.
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