Eu, Um Cliente Chato
Nesta semana eu fui um dos pregadores no culto ecumênico de formatura de uma turma de arquitetura da UFPE, a turma de Bruno, filho de Robervan e Francisca. Em minha prédica ocorreu-me fazer uma metáfora entre algo que os novéis arquitetos iriam encontrar com relativa regularidade em sua carreira e algo que Deus tem que lidar todos os dias, os clientes chatos. Refiro-me dos chatos de verdade e não daqueles ligths dos quais fala o Oswaldo Montenegro, que é o cara a quem você pergunta “como vai?” e ele passa duas horas respondendo a esta pergunta que era apenas uma forma de cumprimentá-lo; é aquele aquém você diz “passa qualquer dia desses lá em casa” e no dia seguinte ele está lá, às 7:30 da manhã.
Refiro-me ao chato de verdade, aquele que chega com mil elogios, dizendo que acredita na sua capacidade e em seu talento para colocar no papel o sonho que ele tem em sua alma, mas que pedem apenas um pequeno favor... que o deixem assistir silenciosamente enquanto o profissional de arquitetura faz a sua obra. Este, ainda que constrangido, concorda. Não quer decepcionar quem sabe o seu primeiro cliente, mas logo se arrependeria.
Tudo começa quando ainda o arquiteto está colocando os primeiros traços no papel. O cliente observa, não está entendendo o significado daquilo e diz que não está gostando. O arquiteto pacientemente pede para que tenha paciência, pois ele está apenas começando o seu trabalho. Meia hora depois, quando o profissional traçou os elementos básicos de seu projeto, o chato pede licença para ser franco e afirma que quer ser sincero com seu amigo e diz: “eu não estou mesmo gostando, eu quero uma casa bela e inovadora, mas você está traçando apenas uma caixa sem muito brilho”. Mais uma vez, o nosso herói comenta, “eu estou no meio da obra, você não pode tirar conclusões apressadas, ainda estou estruturando o desenho, dá pra você esperar mais um pouco para fazer seus julgamentos?”
Parece que as coisas andam bem, quando, passadas mais meia hora, o chato, não suportando mais afirma: “talvez seja melhor você parar, eu não estou gostando mesmo, com a licença da palavra, está ficando mesmo uma droga tudo isso”. “É a última vez que eu lhe peço para esperar eu chegar até o fim, por favor, fique sentado e em silêncio, espere que eu conclua o trabalho”. Você acha que já viu tudo, quando para lhe torrar completamente, findo o projeto, o chato olha para ele com brilho nos olhos e diz: “bem que eu disse que ia ficar ótimo!”
Deus tem enfrentado estes chatos todos os dias. Muito provavelmente eu e você sejamos um destes “clientes” insuportáveis. Estamos o tempo todo desgostosos com aquilo que estamos vendo e vivendo em nossa experiência. Ainda que não estejamos dispostos a confessar, frequentemente, rejeitamos a nossa vida e os acontecimentos que nela se dão. Dizemos a Deus que não estamos entendendo o que ele está fazendo conosco e pedimos para que ele mude a sua obra em nossa história. O Criador, com grande longanimidade, observa a nossa impaciência e falta de fé e tenta nos dizer por todas as formas possíveis: “Calma, eu ainda não acabei. Estou apenas começando a minha obra em sua vida”.
Creio que a confiança em Deus, em sua fidelidade e provisão, é o caminho para uma vida segura e em paz. No meio de tantas incertezas o Senhor nos oferece a possibilidade de caminharmos em comunhão com o seu Espírito, único modo de manter o medo do lado de fora de nossas almas, enquanto enfrentamos os nossos inimigos e às adversidades tão comuns aos mortais.
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