15 anos de Ministério Pastoral
No dia 09 de março de 1991, no templo da Igreja Presbiteriana de Catende, durante culto festivo, presidido pelo Rev. Eliseu Siqueira, então presidente do Presbitério Sul de Pernambuco, fui ordenado ministro do Evangelho. Eu tinha acabado de fazer 23 anos e havia sido designado pelo concílio para pastorear a comunidade onde estava recebendo a sagrada ordem de presbítero. Havia no templo superlotado representantes de diferentes igrejas onde eu já havia trabalhado como seminarista: Congregação da Vila Cardeal Silva e Igreja Presbiteriana de San Martin (1987 e 1988); Igreja Presbiteriana de Barreiros (1989) e a Igreja Presbiteriana da Madalena (1990) fretou um ônibus para que os irmãos mais achegados pudessem estar presentes.
Eu e Claudicéia havíamos nos casado no dia 02 de dezembro de 1989 e não tínhamos filhos. Ela fez grandes renúncias pessoais e profissionais para me acompanhar no ministério. Permaneci em Catende por dois anos, foram anos extraordinários. O Senhor enviou uma unção muito especial sobre a minha vida. Naqueles dois anos a nossa comunidade foi a que mais cresceu em todo o Sínodo Central de Pernambuco, o que acabou trazendo alguma notoriedade para o que estava acontecendo ali. Foram surgindo convites para pastorear outras igrejas, e no final de 1992 eu aceitei concorrer ao pastorado da Igreja Presbiteriana de Afogados, na capital pernambucana. Foi a decisão mais difícil da minha vida, ainda que não tenha sido a mais importante. Foram três dias de jejum e oração para que o Senhor me revelasse a sua vontade. A tristeza em Catende era tão grande que não parecia que eu deixaria o pastorado, mas sim que eu (ou a igreja) morreria.
No início de 1993, em cerimônia presidida pelo Rev. Henrique de Lima Guedes, então presidente do Presbitério do Recife, tomei posse como pastor da comunidade que, anos depois, passaria a se chamar Igreja Presbiteriana do Largo da Paz (era muito complicado explicar pelo Brasil, em minhas centenas de viagens, porque a igreja se chamava “de Afogados”). O meu período no Largo da Paz, dez anos, foi contraditório. Alcancei reconhecimento nacional como um dos jovens ministros de destaque, mas a igreja não cresceu nem sanou os seus mais pungentes problemas. Olhando para trás, passados alguns anos, percebo que me dividi demais, aceitando convites e eleições para cargos eclesiásticos. Assumi a função de professor em diferentes seminários no Recife, comecei a lecionar em mais de uma faculdade. Não sobrava tempo para pastorear. Que o Senhor me ajude a não cometer este mesmo erro novamente!
A minha atuação como político eclesiástico (várias vezes eleito presidente do Presbitério do Recife e duas vezes presidente do Sínodo Central de Pernambuco) e como professor de Teologia caminhavam de mãos dadas. Havia uma espécie de mútua sustentação, mas em ambas as esferas enfrentava fortíssimas resistências, vindas das camadas mais conservadoras da igreja, que no caso da IPB é predominante. Vi com muita tristeza o fundamentalismo crescer novamente nos arraiais presbiterianos. Resisti à reinstalação da miopia puritana, farisaica e beligerante, na liderança da igreja de meus bisavós, mas não logrei êxito. Hoje, digo isto como um lamento, a Igreja Presbiteriana do Brasil, enquanto denominação e estrutura eclesiástica nacional está longe do que já foi no passado, conquanto existam inúmeras comunidades locais e pastores vivos e vibrantes, a denominação é marcada por uma burocracia jurássica.
Os meus olhos começaram a se abrir para o fato de que aquilo que eu julgava ser o caminho da redenção da IPB (a articulação política denominacional) era a sua principal enfermidade. Tudo ganhou contornos indeléveis no processo de eleição ao pastorado da Igreja Presbiteriana da Madalena, no final de 2001. Aquela era a comunidade onde eu passara a infância e adolescência, tinha sido convidado para concorrer à sucessão do Rev. Edijece Martins pelo próprio pastor, que a liderara com honra e brilhantismo por mais de três décadas. Mas as forças do legalismo e do retrocesso se fundiram em todo o país para que eu não ocupasse aquele púlpito. Naquele ano não houve um eleito, ainda que tenha havido eleição. No final de 2002 tudo se repetira, só que desta vez cumulado de covardia e mentira. Perdi a eleição para o Rev. Lutero Rocha, o qual não suportaria mais do que dois anos à frente da Madalena, vindo a renunciar ao seu mandato no final de 2004.
Voltemos aos últimos três meses de 2002. Eu era o secretário nacional de mocidade da IPB, presidente do Sínodo Central de Pernambuco, professor de Teologia Sistemática do Seminário Presbiteriano do Norte, mas um pastor em colapso. Tinha dificuldades em acreditar nas pessoas e instituições, pensei seriamente em me dedicar à carreira advocatícia e me afastar das igrejas (não da Igreja) que me haviam machucado tanto. Foi quando soube da desvinculação da Catedral da Santíssima Trindade e de seu pastor, o Rev. Paulo Garcia, da Igreja Episcopal Anglicana (soube no dia em que estava sendo examinado na Madalena). Liguei para o Pr. Paulo e me solidarizei com ele por sua decisão e coragem. Pouco tempo depois ele soube que eu havia perdido a eleição na Madalena e me convidou para que conversássemos. Foi assim que surgiu o convite para conhecer melhor a Catedral e a Igreja Episcopal Carismática.
Durante o ano de 2003 continuei pastor presbiteriano, ocupando todas as funções que eram de minha responsabilidade, menos o pastorado do Largo da Paz, o qual deixei após ter presidido o processo de eleição que levou ao púlpito daquela comunidade o Rev. João Fonseca. Lá na Catedral conheci melhor aquele que viria a ser sagrado Bispo de nossa denominação, Dom Paulo, bem como o Rev. Alexandre Ximenes e aos milhares de irmãos e irmãs que compõem aquela dinâmica célula de expansão do Reino de Deus. O misericordioso Senhor foi tratando de mim durante aquele ano. Minha última experiência na IPB foi receber a honra de ser paraninfo dos formandos de 2003 (já havia recebido a mesma distinção em 2002). Em dezembro de 2003 pedi exoneração de minhas funções na IPB e disse a o Bispo que estava pronto para receber as ordens em sucessão apostólica, o que de fato aconteceu nos primeiros dias de 2004, no templo da Catedral da Santíssima Trindade, tendo Dom Paulo como pregador e o Rev. Ximenes como mestre de cerimônia.
O ano de 2004 foi riquíssimo. Encontramos um perfeito entrosamento entre os pastores na Catedral, tudo fluía como se tivéssemos toda a nossa vida trabalhado juntos, éramos de fato um time. A imprensa local se referia aos pastores da Catedral (somada a presença do Rev. Caio Fábio) como o Real Madri dos púlpitos evangélicos. Foi um período de muito aprendizado. Eu posso dizer que mais do que ter estudado com Dom Paulo e Rev. Alexandre eu os estudei. Prestava atenção a tudo que eles diziam, mas, sobretudo, ao modo como diziam e àquilo que eles não diziam. Neste ano tive contato pessoal com grandes nomes do cenário cristão nacional e internacional, que eram convidados para ministrar aos alunos do Seminário Teológico Episcopal Carismático, que eu havia ajudado a fundar.
Quando soube que o Rev. Edgar Batista iria ser designado para o campo de Carpina, procurei o Bispo para lhe falar sobre o meu desejo de ser o pastor da juventude da Catedral. Foi quando ele me disse que seus planos para mim eram outros. Queria que eu auxiliasse o Rev. Caio na implantação de uma comunidade na Zona Sul de Recife, especificamente no bairro de Boa Viagem. Eu havia tomado a decisão de aceitar quaisquer que fossem as diretrizes estabelecidas por Dom Paulo, mas confesso que fiquei preocupado. Temia perder aquela amizade e proximidade que tanto estavam me edificando, já me sentia em casa na Catedral, era amado e respeitado por membros e funcionários da igreja, mas obedeci.
Após a trágica morte de Lucas, filho do Rev. Caio, ele decidiu não mais vir para o Recife, contudo, o projeto já em andamento de uma Paróquia em Boa Viagem continuou. Reuni um grupo de não mais que dez casais, começamos a esboçar o que viria a ser a nossa comunidade. Claudicéia preparou e mandou confeccionar todos os objetos litúrgicos, desde as estolas aos cálices. No dia 28 de julho, no auditório mais do que lotado do Mar Hotel, começou a funcionar a Paróquia da Reconciliação (este nome foi idéia de D. Márcia Garcia, esposa de nosso Bispo), eu preguei sobre o texto: “ele nos deu o ministério da reconciliação”, II Cor. 5:18. O primeiro culto dominical ocorreu no dia 01 de agosto e o pregador foi o Rev. Caio Fábio. Eu estava esperando uma audiência de umas cem pessoas. Como Claudicéia insistiu muito eu mandei fazer duzentos boletins e me programei para enviar pelo correio os exemplares que sobrassem. Para a glória de Deus havia mais de quatrocentas pessoas em nosso primeiro culto e de lá pra cá nunca houve um domingo em que este número não tenha aumentado.
Hoje a Reconciliação congrega mais de oitocentas pessoas todos os domingos e é um presente de Deus para esta cidade... mas a história da Reconciliação eu conto outro dia.
Obrigado Senhor por tua misericórdia e fidelidade!
Com emoção,
Martorelli e Claudicéia Dantas